2 de jan. de 2010

Parágrafo dedicado à minha Prima Eduarda Ventura, a quem nutro especial afeição.

Faz muito tempo, éramos crianças inocentes e, ainda assim, super apaixonadas pela vida. Já tínhamos o senso da amizade e a cultivávamos muito. Crianças ingênuas e sonhadoras. Passávamos as horas brincando, outras vezes divagando sobre o nosso futuro. Já o conhecíamos de antemão. Sabia eu que em breve nos separaríamos e talvez nunca voltássemos a nos ver. Eras uma criança linda, cinco ou seis anos, foge-me à memória, corpo franzino, raquítico, ainda com aqueles olhos pequenos, eternos e brilhantes, os cachos curtos e castanho-escuros, diferente das outras crianças. Sentíamos muito prazer em tê-la conosco, em nossa humilde casa, um castelo pra ti, dada as dificuldades por que passaras. Foi curta a sua temporada em nosso lar, logo te despedias, com lágrimas nos olhos, de alguém que nunca mais voltarias a ver. Ficamos saudosos, muito, eu e meu irmão, não te lembras, mas ele existiu e fez parte de nossas vidas, pouco para ti, é certo. O destino laçou-nos caminhos diferentes, distantes, opressivos, separando-nos do elo afetivo e familiar. Assim nos deixamos levar pela vida, reservando ao tempo às nossas memórias deixadas ao vento do esquecimento. Mas bons ventos a trouxeram, e como dizem, o que vai, volta, a água evaporada da terra é devolvida em maior proporção pelas chuvas, os ventos correm à galope e não se esquecem de devolver-nos as mais significativas relíquias da vida. A lembrança é uma delas; chegam aos poucos, fragmentadas, e como peças de quebra-cabeças, nos lançamos a montá-las, não sem muito esforço.

O reencontro é algo sonhado e querido. Embora exista uma diferença enorme entre realidade e fantasia, uma e outra acabam se complementando de alguma forma. Nada mais satisfatório em saber que existes e saber que a tua vida não é tão diferente da minha. Muito tempo se passou e fico feliz que depois de breve apresentação nos sintamos alinhados com os mesmos traços afetivos de antigamente. Agora só nos falta aguardar do destino a sentença para os nossos caminhos se cruzarem novamente. O onde e o quando, só o tempo dirá. Nosso tempo é curto, mas nossa memória prevalecerá por muito tempo registrada nos cadernos da vida

Amor!

Espécime raro este amor

Que se amarra forte

O teu no meu

Peitos fortes incandescentes

Pássaros alados que buscam

Perfeição nos horizontes celestes.

Sendo o céu o limite

Tenho alcançado o âmago

Da paixão tão bem localizada

O cerne de todo acontecimento

O desejo realizado cotidianamente

A fome saciada do amor transcendido.