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27 de mar. de 2012

Recortes sobre o amor.

 
Não busque as razões para despertar o desamor; confie sempre e aproveite o melhor que o amor pode oferecer. Esse sentimento é ingénuo, - parece - quando mal manejado; sentimento que é sempre perigoso, tal qual uma bomba sensível e invisível, do qual se é preciso ter cuidado para não detoná-lo: as feridas são incuráveis. Dedique-se a ele e não tenha medo dessa iguaria, promova, prove e aprecie-o, com tranquilidade, com paixão. Não torne os seus sentimentos por ele controverso, não pense que ele se confunde com um outro algo que não seja o puro amor. Seja sensível, saiba ler nas linhas e entrelinhas somente as palavras que dele pululam: amor. Pense sempre o motivo que o faz ser companhia inseparável, esse amigo de tantos dias, meses e anos, que se engraça sempre com sua mania de ser, assim saudável, assim majestoso. O amor só se comporta feliz porque se faz amado por quem o carrega; se em muitos corações com sua enormidade e generalidade, se em muitos corações, divididos ou unidos, ou se em todos os corações assim amaciados ancorados estirados obrigados, todos com a última missão de fazê-lo acontecer; está aí em tudo e em todos. Não busque razão para despertar o desamor e confie nele sempre como o melhor pra se amar.
Sérgio Ventura.

23 de fev. de 2012

Pensando.

Diante das incertezas, chego a pensar que serão derrotadas a minha segurança e paciência com relação ao futuro, uma vez que o meu presente esteja sendo bombardeado por falsas esperanças. Se estar só parecia a última das opções, agora se apresenta como a única primeira; se viver sozinho era impensável, hoje, alternativa correta; incluir em mim um jogo a dois, já foi um sonho que hoje, a medida que o tempo me escorre, mostra o quão errado estivera. Sonhar não é mais opção, é-a viver a realidade, como que andar por esteira de carvões em brasa. Uma decepção já é mais o bastante; o ego ferido não é mais regenerado; tudo acontece aos olhos, nada escapa; nesse domínio do falso e do absurdo; raciocinar já se torna pecado; enxergar não é mais solução; andar cego às escuras, parece ser meio mais que viável. O caráter se dissipa tais quais os ventos fortes, o que resta se não poeiras mal arrumadas, apenas o vazio carregado. Que pena pensar! Pensar ousado como pensava o outro, o outro que era parte de mim, e se não morreu, ao se silencio se resignou sem palavras nem afetos.

 

Sérgio Ventura.

7 de dez. de 2011

Lá e cá.

Já não há poeira nos meus pulmões nem graxa diária nos meus sapatos; não há desinteresse, frustrações nem almas iludidas por um sotaque mal articulado; não há privacidade invadida nem amigos no portão da rua esperando convite para entrar em casa que não me pertence; não há dinheiro sendo jogado na latrina; não há mais refeições mal higienizadas nos restaurantes de merda praticando preços triplicados que nem os melhores restaurantes de primeira classe dos países de primeiro mundo praticam; um banho por dia é passado; energia elétrica uma vez por semana é passado; já não há reclamações diárias. O que há é o conforto. Uma casa própria, limpa, com água e luz acessíveis 24 horas por dia, 364 dias por ano – um dia dispensado ao apagão geral –. Banhos incontáveis por dia, piscina, banheira, chuveiro com água límpida e quente. Os meus sapatos não reclamam mais a graxa de petróleo todos os dias, – e duvido que algum dia reclamem aqui –, as roupas têm um cheiro diferente – deve ser da água, outra vez –; os meus amigos entram e saem, esperneiam, deitam-se, dormem, bagunçam a casa toda, bebem, embriagam-se, comem, esparramam-se pelo chão, sofá, cama, fazem barulho, divertem-se entre gritos e sorrisos, gargalhadas e suspiros, e quando vão embora, eu sinto saudades, e desejo que eles voltem o quanto antes para fazer a mesma coisa. Têm toda a liberdade que não pude ter onde me hospedava. As refeições são uma maravilha, – até as mais simples –, têm um sabor inquestionável, inegável, imprescindível ao palato. O coração não se sente mais só; as alegrias são constantes, as ideias são diferentes, os desafios são outros, compatíveis com a minha força e com a minha segurança. Lá onde me dispus por muito tempo, os dias não passavam sem que eu me sentisse infeliz; aqui onde estou, não há dia que passe em que a felicidade não reine na sua constância na minha consciência.

 

Sérgio Ventura.

5 de nov. de 2011

Estradas mal paradas.

Quero estar adormecido na estrada da vida por estar cansado de andar e pisar sempre em falso, sempre descalço. Já há tempo doem-me as feridas causadas por ruas mal aplainadas, e o jazido sangue todo diminuído do corpo, despojos dos caminhos mal traçados; eu, pisante, andante, imparável; nômade; lobrigado a escolher a cada instante, entre cruzamentos, a direção certa – porque parado e traçado, só mesmo o destino –. Farto, instigo os instintos ao fim do meu caos, porque se todas as estradas, ruas, caminhos, direções, destinos têm fim, que os sejam agora o meu.

Sérgio Ventura.

17 de jul. de 2011

Letras em frangalhos.

 

life

Parei de escrever há um tempo. Não lembro quando nem o que escrevi pela última vez. A palavra escrita já há muito não alimenta a minha alma. Estou desconfiado mesmo que se tenha zangado comigo. Antes, dormia e acordava com ela e por ela; nada fazia que não a tivesse como companhia. Hoje… só solidão!

Acordo pela manhã sedento para expressar um sonho lindo emocionante… mas fogem-me as letras; por onde se escondem não sei; apenas que o sonho não pode ser expresso e compartilhado com uma folha que de branco já vira amarelada de tanto que não é usada. Eu e a folha fomos alvos de traição. Os sons do meu mundo não querem mais se transformar em grafemas, nem esses em vocábulos alinhados em frases mal codificadas. Meu mundo está se apagando porque não pode ser mais expresso por palavras escritas.

- E se eu pudesse compartilhar oralmente tudo o que sonho e todo o meu mundo? Seria possível!?... Não. - No meu mundo, só existo. Não há pessoas que possam compartilhá-lo comigo. Meu único intermediário eram os escritos que minh’alma fabricava. Eram os que me conectavam ao mundo real. Sem eles, foi-se o real, foi-se o mundo.

Estando eu separado das letras, fica o mundo sem dono e, real ou fictício, fica o mundo sem governo; estando eu separado do mundo, ficam as letras sem dono. Estando as letras e o mundo separadas de mim, fico eu sem definição, sem existencia. Uma vez que as letras acordam para a existencia o mundo, acordam-me a mim o mundo à existencia das letras. Se por elas vivo e vive o mundo, sem elas o mundo vivo em mim morre.

Sérgio Ventura.

6 de mar. de 2011

Manifestação convocada para o dia 7 de março de 2011 (Angola)

Ao

EXCELENTÍSSIMO SR. ENGº JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS, PRESIDENTE DA REPUBLICA DE ANGOLA

L U A N D A

Excelência,

Embora a manifestação convocada para o dia 7 de Março de 2011, não ser de iniciativa, do PDP-ANA, POC e do PARTIDO POPULAR, nós, partidos políticos nacionais, legalmente constituídos a luz da lei vigente no país, em nosso nome e em nome das forças políticas democráticas angolanas e com beneplácito de organizações da sociedade civil e de activistas cívicos: AMPLO MOVIMENTO DOS CIDADÃOS, FORUM DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS, MPALABANDA, MANIFESTO JURIDICO E POLÍTICO DO PROTETORADO LUNDA, COLECTIVO MULT-SECTORIAL PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL, CONSELHO DE COORDENAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS e de LIDERES RELIGIOSOS de várias confissões, incluindo padres, apoiam e assumimos nossa participação na manifestação popular ora convocada, por ser feita com fundamento no artigo 40º e 47º da Constituição Angolana, aprovada pelo MPLA que diz:

Artigo 40º

“1. Todos têm direito de exprimir, divulgar e compartilhar livremente os seus pensamentos, as suas ideias e opiniões pela palavra, imagem ou qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informado sem qualquer impedimento.

2. O exercício dos direitos e liberdades constantes do número anterior não pode ser impedido nem limitado por qualquer tipo de censura”

Artigo 47º

“1. É garantida a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de manifestação pacífica e sem armas, sem necessidade de qualquer autorização e nos termos da lei.”

Tratando-se de uma manifestação pacifica e com objectivo único de exprimir o pensamento reivindicativo do povo que já corre e agita os musseques e cidades de todo país e que se traduz numa verdadeira tensão política e social, derivadas de:

Elevado índice de pobreza, desemprego, descriminação social, falta de acesso a educação e a saúde e de oportunidades para os jovens.

A maioria dos militares Angolanos não tem direito a Caixa Social das Forças Armadas. Nesta situação estão os militares das Ex- FAPLA, do MPLA, Ex-ELNA, da FNLA, Ex-FALA, da UNITA e das FLEC. Nesta condição estão também elementos da Unidade da Guarda Presidencial.

Na Polícia Nacional e nas FAA alguns Oficiais Generais e suas famílias exibem riquezas que contrastam com a miséria em que vivem os agentes, soldados e oficiais subalternos.

A economia é dominada pela família de Sua Excelência Sr. Presidente da Republica e de pessoas que a Si rodeiam. Muitos dos dirigentes e membros do MPLA vivem a dizer nas esquinas, tal como o povo, quem são os donos dos bancos, dos hotéis e de outras empresas que desfilam pelo país, enquanto, eles e os empresários angolanos estão na ruína absoluta. Engana-se, assim, quem pensa que a maioria dos membros do MPLA está satisfeita com o regime, pois só não falam em público por medo. Porque o medo atingiu também o MPLA.

As zungueiras, que lutam pela manutenção das famílias, já que os seus maridos não têm emprego, são mal tratadas e ou mortas pela Polícia.

Os jovens que para não roubarem ou ingressar na delinquência, passam o dia, debaixo do sol, para vender alguma coisa e sobreviverem de forma honesta, mas, infelizmente, a Polícia Nacional os prendem.

Os jovens não têm emprego nem acesso as Universidades, porque os seus pais não têm capacidade financeira para suportar os custos, enquanto o governo gasta milhões de dólares com a construção de estádios e outras obras fúteis.

A destruição dos grandes mercados a nível nacional como a do Roque Santeiro, de forma violenta, chegando mesmo em muitos casos, como no Sumbe a matarem vendedores, levou milhares de famílias a miséria absoluta.

Na Huila e em todo país os cidadãos estão a ficar sem as suas terras porque os novos latifundiários recebem as propriedades dos autóctones.

O povo com sacrifício constrói as suas casas, mas o regime não respeita as suas propriedades e se assiste em todo país uma onda de demolições.

As liberdades fundamentais não são respeitadas, o medo foi instalado, ninguém pode se manifestar ou emitir opinião diferente das do regime do MPLA.

As igrejas nacionais não são legalizadas ou são encerradas mas as estrangeiras são reconhecidas logo que chegam.

As assimetrias, as injustiças sociais e económicas regionais têm levado a convulsões sociais como as que se vivem em Cabinda e no Leste da Angola.

O cartão de membro do MPLA representa mais cidadania que o bilhete de identidade, pois ele se afirma como partido estado.

Os filhos de Angolanos nascidos fora do país, particularmente nos Congos, são tratados como estrangeiros

Excelência;

Estes são, entre outros, os factos que nos levam a solidarizar com a manifestação e, gostaríamos de exprimir a Sua Excelência Senhor Presidente da Republica, que membros da direcção do MPLA pretendem usar a polícia e as FAA para reprimir a manifestação.

Na qualidade de Presidente da República, não deve permitir que a manifestação pacífica se traduza em banho de sangue. Os que querem agir assim, não são seus amigos, pois eles sabem que se isso acontecer, será Sua Excelência Sr. Presidente o único responsável. E, eles sabem também, que a comunidade internacional já não tolera este tipo de comportamento, perseguindo os violadores e os levam ao Tribunal Penal Internacional em Haia.

Excelência;

O futuro pacífico de Angola está nas suas mãos, as mudanças democráticas estão nas suas mãos. Angola precisa de paz e não de guerra ou derramamento de sangue, como pretendem os dirigentes oportunistas do MPLA que estão a incitar a violência e, no final atribuir a Si as responsabilidades, como fizeram com Agostinho Neto no 27 de Maio.

QUE DEUS ILUMINE O SR. PRESIDENTE

QUE DEUS ABENÇOE ANGOLA

LUANDA, AOS 28 DE FEVEREIRO DE 2011

OS SIGNATÁRIOS

SEDIANGANI BIMBI

MANUEL FERNANDES

DAVID MENDES