Sendo vento, passamos rápido. Sendo mineral, nos tornamos rocha. Sejamos um e outro. Aquele lapidando, esse lapidado.
9 de abr. de 2009
Trabalho Árduo
8 de abr. de 2009
Minha ilusão conquistada
Minha ilusão conquistada (em construção)
Percorri toda a minha vida achando que não encontraria alguém com quem pudesse compartilhar os meus segredos, as minhas emoções. Estava enganado, pois no dia em que menos esperava uma figura se apoderou dos meus sentidos. Não se comparava as figuras do meu cotidiano. Tinha algo diferente. Aqueles olhos... castanhos claros brilhando e reluzindo a esperança outrora perdida. Entrecruzados, os olhos repetiam movimentos descontínuos de dois seres procurando significados nas insignificâncias de suas vidas. Mágico. Foi o momento de enlace. A sede que alimentava os problemas de ambos sendo saciada pela correspondência inacreditável entre os dois seres. Eu... fiquei extasiado. Não havia experimentado tanta paixão, tanta intensidade nos jogos sinestésicos. O toque, o beijo, o grito. Sim, o grito à liberdade, à expurgação, à catarses, à conquista. Um encontro platônico entre dois que se uniram em prol de um sentimento: a paixão, o amor.
6 de abr. de 2009
Filhos da rua
Filhos da rua
Chegado a Lapa, meio confuso pelo visual semi-deserto em que se encontrava, apenas alguns transeuntes, comparado com a imensidão e profusão de gente das mais variegadas tribos, e o tumulto de sexta e sábado, vi-me imerso no medo. Medo de ver aquele local descaracterizado, destituído de tudo o que o torna sagrado: dos ambulantes vendendo seus aparatos simbólicos do nacionalismo carioca aos tipos estrangeiros perambulando entre a multidão, as bebidas excêntricas, alhures batizadas como incentivo ao capital, o fumo sagrado da noite de jovens patriotas da cultura pop / hippie / hip-hop, mulheres travestidas em homem, homens travestidos em mulher, boates e antros de delírio gestual, gêneros de músicas e ritmos que traduzem o gosto popular, ricos – pobres, convergências da zona sul e norte e oeste, o subúrbio e a metrópole, e muitas outras sinestesias, contrariaram àquela expectativa: ver igual à lapa de sexta ou sábado, o domingo. O medo, nem tanto pela frustração de não ver a Lapa como a descrita, mas, com pior aspecto, de ver os “filhos da rua”.
Lembro muito bem de ter ouvido, por expressão de muitos, entre outros jargões, “fui assaltado na Lapa”, “a Lapa é muito perigosa”, “se for lá, que seja em grupo”. Lembro também de nunca ter presenciado tal “fato” o que contraria as assertivas, mas não diminui o medo. O medo de ser assaltado.
Relutei. Mas posto lá, em pleno domingo, decidi, ainda que descontente, me engajar na descoberta de algum lugar conhecido ou desconhecido que me fizesse gozar os prazeres que só o lugar proporciona. Caminhava e observava apreensivo os poucos lá se encontrando, pois guardava no bolso míseros reais, o suficiente para alimentar a fúria de um estomago faminto. Decrépitos, sem tetos, crianças do berço às idades maiores, pessoas com rumo traçado, talvez para a vala comum de indigentes, a marca registrada da força tarefa que intui ao primeiro mundo o Brasil. Uns fumando, cheirando... a guimba largada ao chão, a cola de sapateiro às sobras, a gasolina do posto entre a Mem de Sá e a Riachuelo, outros gozando de maior liberdade, descendo à goela a pureza do álcool. Tantas visões que num plano superficial não significam muito comparado aos prazeres e liberdades que buscamos no centro. Mas existe aí uma diferença: a nossa diversão na escola de formação dos filhos da rua.
Dir-se-ia escola de formação, pois sabendo-os lá ás sextas e sábados, entremetidos na multidão, em disfarces do gênero, corriqueiros e agrupados, ludibriavam nossos sentidos, assaltando nossos bolsos e bolsas. Nunca os tinha visto a não ser pela desconfiança que, talvez, dava existência a insegurança e alimentava meu medo no domingo. Infernal pensamento, frustrado certamente pela incerteza de minha diversão. O aspecto era deplorável. A Lapa tomada pela pobreza e imundície da cidade que dos olhos vendados das sextas e sábados somente nesse dia para descortinar no meu âmago a realidade da vida que nos rodeia.
Amparo não há àqueles que vivem no chiqueiro. Vidas sem significados, como o pobre que se finge de cego, em dias de correria, a pedir esmolas. O número consistente de deslocados em busca de algo que não acharão nessa vida, embora se preze a instituição na busca por significar e dar sentidos a essa “gente” pobre, sem natureza, que finge estar viva, que vive para tirar vidas, que morre por não existir; Fácil viver, passeando aqui e ali e não enxergar que algo desanda, regride, se corrompe. Uma cura é aclamada: o esquecimento, a cura de todos os males.
Mas de onde saem tantos? Como se formam os grupos, como o ciclo se efetua? Como as mentes perversas se estruturam? Não importa muito. O tempo é caro demais para responder às perguntas. Deles, a salvação de Deus.
Frustra evidentemente pensar que a minha vida possa cruzar-se com um tipo desses, um delinqüente, algo parecido, como criaturas excomungadas do Céu. Não fazem parte do nosso ciclo social, mas estão ao redor, na margem, prontos para atacar. A proteção: fé.
Embora inseguro, andei pelas ruas comprometidas com a satisfação do cliente, cruzei com uns poucos procurando o mesmo que eu. Bati os olhos ao redor, um bar ou outro; ambos vazios, sem atrações, nada empolgante, mas persisti. A Sinuca da Lapa – como não havia pensado no lugar? – embora desestimulante pela minoria ocupando o espaço eu convenci-me de que era o ideal. A sinuca, o “drink”, o adversário. E o medo? Esse sumira dado o ambiente envolvente, a música, a diversão, o bate-papo com o desconhecido que se oferecera para a partida na mesa, fizeram da frustração a absolvição.
Por aí, a minha corrida acabava. Minha diversão era a catarses de seis dias trabalhados e minha revolta foi momentânea, mas no meu texto, ficaram o lamento e a esperança de que os filhos da rua possam ser, algum dia, filhos do homem.