28 de dez. de 2010

Amor obsessivo

Os stalkers vigiam os passos de suas vítimas e transformam a vida da pessoa pela qual têm fixação em um verdadeiro inferno.

Imagine que você não consiga pensar em nada que não tenha relação com determinada pessoa. Seu desejo e desespero são tão intensos que se aproximam da dor física. A ausência do ser amado o impele a escrever páginas e páginas de cartas e a discar seu número de telefone várias vezes ao dia. Por vezes, sentindo que está abandonado ou que ninguém dá atenção à sua dor, é compreensível que surjam ódio e planos de vingança. Em princípio, isso pode parecer apenas sinal de um comportamento irracional demonstrado por uma pessoa apaixonada que não é correspondida. Algo que, de acordo com senso comum, vai passar com o tempo. Mas e se esses sentimentos e comportamento persistirem? E se as tentativas de participar da vida do ser amado se tornarem cada vez mais exageradas e agressivas?

Esse foi o caso de Helene K. , uma fisioterapeuta de 40 anos. Em um fim de semana ela recebeu em casa o telefonema de um ex-paciente. Somente depois de pensar muito, se lembrou de que havia um ano o homem recebera alta da clínica onde ela trabalhava. O rapaz explicou que gostaria de revê-la, mas Helene, delicadamente, deixou claro que não tinha intenção de manter contato com ele. Seguiram-se então cartas com juras de amor e outros telefonemas. Até que um dia o antigo paciente apareceu com as malas feitas diante da porta da casa de Helene dizendo que estava fazendo alterações em sua vida – ele pedira demissão de seu trabalho para passar o maior tempo possível “cuidando dela” e pretendia mudar-se para a casa da terapeuta. Mesmo quando Helene o mandou embora rudemente ele não desistiu: pelo contrário, intensificou a perseguição, passando a vigiar todos os seus passos. A fisioterapeuta, por fim, mudou os números de telefone e obteve uma ordem de restrição do direito civil para garantir que ele fosse preso, caso se aproximasse dela. O admirador reagiu enviando cartas ameaçadoras – e continuou nos calcanhares de Helene, passando a aterrorizar até mesmo seus vizinhos.

CAÇADOR À ESPREITA

O fenômeno da perseguição excessiva ganhou atenção da mídia apenas há aproximadamente 20 anos, devido a alguns casos de assédio a famosos, como o da tenista Steffi Graf (ver quadro). Psicólogos e psiquiatras, porém, conhecem essa ameaça há mais tempo: no século XIX, um dos pais da psiquiatria forense, Richard von Krafft-Ebing, já escrevera sobre mulheres com fixação obsessiva que viajavam atrás de atores que idolatravam. Nos anos 80, a erotomania – também chamada síndrome de Clérambault – foi classificada como distúrbio psíquico. Quem sofre dessa patologia parte do princípio irremovível de que é amado pela outra pessoa – mesmo que não haja nenhum motivo para que chegue a essa conclusão. O esforço incessante de entrar em contato com alguém é considerado uma das principais características da erotomania. Para abordar esse comportamento costuma-se usar a expressão em inglês stalking, um termo relacionado à caça, que indica uma forma sorrateira de se aproximar da presa.

Da mesma forma, um stalker cerca sua vítima e procura não perdê-la de vista. Mesmo diante da rejeição explícita, ele insiste na aproximação – seja por telefone, carta, e-mail ou diretamente. Alguns enviam presentes ou objetos bizarros, às vezes assustadores, como colagens de fotos com caveiras no lugar dos rostos. Por vezes, fazem encomendas em nome da pessoa que perseguem, simplesmente com a intenção de difamá-la. Um em cada cinco stalkers se torna agressivo em algum momento, podendo voltar-se violentamente contra a vítima, seus parentes próximos ou conhecidos ou mesmo seu animal de estimação.

Embora as motivações amorosas dos stalkers sejam as mais frequentes, os perseguidores não se restringem a elas. Podem ser movidos, por exemplo, pelo desejo de vingança. Ex-parceiros íntimos, em geral, representam o maior e mais perigoso grupo de stalkers. Alguns deles têm autoestima instável, mostram indícios de distúrbios
de personalidade narcisista ou borderline, mesmo que não tenham recebido esses diagnósticos. A maioria dos ex-parceiros perseguidores sabe que é malvista pelos seus atos.

No entanto, para eles isso ainda é melhor do que serem ignorados.

O ex-namorado de Bettina M., por exemplo, começou a controlar a secretária de 28 anos mesmo antes de terminarem o relacionamento. Ambos trabalhavam no mesmo local; ele, muito ciumento, não queria que ela falasse com colegas. Por fim, a moça se separou depois de três meses – mas continuou encontrando o rapaz na empresa. Ele descobriu a senha do e-mail da ex-parceira e passou a acompanhar sua correspondência. Ele também entrou em um dos fóruns online de que a secretária participava e anunciou o suicídio de Bettina. E passou a bombardeá-la com mensagens SMS – o tom era ora suplicante, ora ameaçador e, por vezes, simpático. Após seis meses, ela arrumou um novo namorado, mas seu perseguidor se manteve espionando o casal e enviando mensagens regularmente.

O que leva uma pessoa a ter esse comportamento? Entre 2002 e 2005, nosso grupo de trabalho, coordenado por Hans-Georg Vo, na Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, realizou o primeiro estudo sobre essa questão. Entrevistamos 100 stalkers que nos contataram anonimamente pela internet. Revelou-se uma percepção bastante distorcida: apesar de suas tentativas de aproximação não terem sucesso, quatro em cada cinco perseguidores declararam que queriam continuar no encalço. O motivo mais alegado por eles foi o fato de estarem ligados ao outro “pelo destino”. Um terço dos entrevistados estava convencido, de forma onipotente, de que devia superar a resistência de sua vítima, pois ela própria, no fundo, queria isso. Outro terço sentia-se obrigado a cuidar da pessoa amada. Essas declarações trazem uma evidência: quem entra na mira de um stalker pode rejeitar as tentativas de contato seja o quanto for – o ofensor não aceitará as recusas.

EXCESO DE DOPAMINA

Nossas entrevistas mostraram que o próprio stalker em geral se sente profundamente infeliz.

Mais de 60% deles se sentiam deprimidos. Um em cada três sofria de estados de
ansiedade e eram acompanhados por médico ou psicólogo. Quase 40% declararam ser reincidentes. O psicólogo Reid Meloy, da Universidade da Califórnia em San Diego, e a antropóloga Helen Fischer, da Universidade Rutgers em New Jersey, descobriram em 2005 alterações relevantes na química cerebral dos stalkers. Eles perceberam que, após uma rejeição, os afetados permaneciam confinados em uma espécie de círculo vicioso. Motivo possível: excesso constante de dopamina, substância mensageira da motivação – o que, segundo Fisher, não é raro em pessoas que estão sofrendo por amor. “Claro que há questões psíquicas envolvidas, mas do ponto de vista orgânico, mal o objeto do desejo desaparece, é reforçada a atividade nesses circuitos cerebrais que geram a sensação de admiração intensa”, diz a pesquisadora. A dopamina é o combustível principal para a motivação e representa o sentimento de desejo no cérebro. Ao mesmo tempo, o nível de serotonina em stalkers é muitas vezes baixo, o que estimula estados de depressão e ansiedade.

Enquanto as pesquisas relacionadas aos motivos que impulsionam os ofensores já estão sendo desenvolvidas há algum tempo, estudos a respeito dos efeitos do stalking sobre as vítimas são relativamente novos. Em 1998, Patricia Tjaden e Nancy Thoenness, do Center for Policy Research, em Denver, desenvolveram o estudo mais representativo até o momento sobre essa questão: 8% das mulheres e 2% dos homens nos Estados Unidos já foram, pelo menos uma vez, assediados de forma intensa, a ponto de temer pela própria segurança ou pelo bem-estar de pessoas próximas. O pesquisador Harald Dressing, da Universidade de Mannheim, realizou em 2004 um estudo na Alemanha, considerando também casos mais leves, e concluiu que um em cada oito alemães já foi “perseguido” alguma vez.

Diferentemente de pessoas que sofrem por eventos pontuais, as vítimas de stalking se confrontam de forma constante com o objeto de seu medo. Às vezes, são obrigadas a lidar com seus torturadores no dia a dia. Se o telefone toca, pensam automaticamente que pode ser o perseguidor. Nessa atmosfera de medo e perplexidade, esquecem o que é ter uma vida “normal”.

Entre 2002 e 2004, nosso grupo entrevistou um total de 550 vítimas de stalking. Entre os voluntários, 85% eram mulheres, e a maioria revelou um histórico de muito sofrimento: em média, no momento da entrevista, a perseguição já durava 28 meses. Em
um caso extremo, se prolongava por 30 anos. O estudo mostrou que as vítimas eram importunadas ou ameaçadas, em média, em três a quatro locais de sua vida rotineira. Por exemplo, no bar ou restaurante que costumavam frequentar, no supermercado perto de casa, na academia de ginástica ou no trabalho. Porém, o local mais comum era em casa – o que parecia ainda mais perturbador. Várias vítimas reagiam se isolando do mundo externo – viviam, por exemplo, com as janelas fechadas a maior parte do tempo. Muitas mandaram instalar fechaduras mais seguras, adquiriram números de telefone que compartilhavam apenas com poucas pessoas e passaram a evitar sair de casa. Isso teve um efeito dramático sobre sua vida social: as vítimas se afastaram visivelmente da família e de amigos, e muitas enfrentaram dificuldades com o parceiro. Uma em cada cinco vítimas acabou mudando de casa, e um em cada dez entrevistados pediu demissão do emprego.

Foi o que aconteceu com Bettina M. Ela não suportava mais encontrar o seu importunador todos os dias, vivia tensa e chegou a ser suspensa por causa de suas queixas constantes. Como se não bastasse, o chefe mostrou-se compreensivo com a decepção amorosa do perseguidor e censurou Bettina por sua “incompreensão”. Em seguida, ela obteve uma medida cautelar contra o stalker e iniciou um tratamento psicológico. Por enquanto, ele ainda mantém a “distância segura” determinada judicialmente. Mesmo assim, a moça vive com o medo constante de que ele apareça de repente ou a ameace. No momento, ela está fazendo psicoterapia e espera encontrar um novo emprego.

FIXAÇÃO PELAS ESTRELAS

Quase todos os perseguidores de pessoas famosas se iludem e idealizam a possibilidade de se aproximar de seu ídolo, colocando sobre ele uma série de projeções. A maioria dos stalkers de famosos, de certa forma “vampiros de identidades”, querem estar perto o suficiente para apropriar-se de características que os atraem. Um exemplo é Günther P., durante anos obcecado pela tenista alemã Steffi Graf. Em 1993 ele cometeu um atentado contra outra jogadora, Monica Seles, concorrente da esportista. Graf não era a primeira personalidade que Günther idolatrava – ele já havia se fixado no papa João Paulo II . Sua obsessão pela tenista começou em 1985, quando a viu em um programa de televisão. A partir de então, passou a escrever cartas para ela e para sua mãe. Chegou a mandar-lhe dinheiro, forrou as paredes de seu quarto com fotos gigantescas da moça e não perdia nenhum de seus jogos. Ela era para ele “uma criatura de sonhos, com olhos de diamantes e cabelos de seda brilhantes”. Via nela características virtuosas, como “limpeza, sinceridade e pureza”. Mais tarde, psicólogos identificaram um distúrbio de personalidade narcisista em Günther P. O problema teria relação com a falta de atenção dos pais durante a infância. Seu objetivo ao tentar estabelecer uma ligação com Graf era fortalecer a própria identidade.

Quando a tenista foi derrotada por Monica Seles em 1990, durante o German Open, o mundo dele veio abaixo. “Isso me abalou tão fortemente que pensei em tirar minha própria vida”, contou mais tarde. Em abril de 1993, cometeu o atentado: cravou uma faca nas costas de Seles. Sua intenção era que sua adorada voltasse a ser a número um no ranking do tênis mundial.
Na divisão de psicologia forense de Darmstadt foi realizado o primeiro estudo sobre stalking de pessoas públicas em países de língua alemã. Para tanto, 53 personalidades conhecidas das áreas de entretenimento e da mídia foram entrevistadas. Mostrou-se que cerca de 80% delas já haviam estado na mira de um perseguidor pelo menos uma vez na vida – uma frequência aproximadamente oito vezes mais alta do que na média da população. A idade ou o sexo das estrelas não influenciavam o fato de serem alvo de perseguição obsessiva. Na verdade, foi muito mais decisiva a frequência com que aparecia na mídia. Aqueles que expõem sua vida privada, portanto, estão sob maior risco. São a essas pessoas que os stalkers se “apegam” com mais facilidade.

VERGONHA E CULPA

A maioria dos entrevistados por nós também desenvolveu, com o tempo, sintomas físicos e psíquicos. Vários se envergonhavam do ocorrido ou até mesmo se culpavam. Dois terços dos entrevistados sofriam de ataques de pânico, dificuldades de concentração, depressão ou distúrbios alimentares ou de sono. O estresse constante, além disso, era a causa de irritação, acessos de raiva e agressividade. Mesmo nos casos em que a situação de stalking havia chegado ao fim, os estados de ansiedade quase sempre se mantinham. Um em cada quatro entrevistados declarou já ter pensado em se matar ou mesmo já ter realizado uma tentativa concreta de suicídio.

Esses exemplos mostram que os perseguidores adquirem um poder fatal sobre a vida de suas vítimas, apesar de poucas vezes chegarem a agressões físicas. No entanto, em um de cada cinco casos, o ofensor utiliza violência física, não recuando diante de surras, ataques com armas ou mesmo tentativas de assassinato. Segundo uma análise do psicólogo Reid Meloy, para vítimas de stalking o risco de ser assassinadas é 50 vezes mais alto do que para a média da população. Nesse caso, ex-parceiros são os mais vulneráveis: e quanto mais intenso foi o relacionamento entre vítima e stalker, maior é o risco.

Em geral, porém, a situação não se agrava sem aviso prévio. Em todos os casos, o aconselhável é não lidar com o problema sozinho, mas buscar apoio psicológico e registrar um boletim de ocorrência. Tribunais de direito civil podem emitir uma proibição de aproximação e contato, mas, em geral um em cada cinco casos, isso desencadeia um perigoso agravamento, pois a vítima insulta o stalker, de certa forma, publicamente. Para alguns, a violência torna-se então a única possibilidade de compensar o orgulho ferido ou o desespero. De qualquer forma, vale lembrar que, apesar do risco, denúncias podem interromper a ação de ofensores, e terapias que tornem a vítima mais apta a se proteger, inclusive psiquicamente, oferecem suporte durante a situação de sofrimento, ajudando a pessoa a compreender as próprias questões, em geral antigas, que de alguma forma podem ter contribuído para essa situação.

Cientific Americam: Mente e Cérebro. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/amor_obsessivo_6.html>. Acesso em 28 de dezembro de 2010.

17 de dez. de 2010

José Saramago: O fator Deus

JOSÉ SARAMAGO

 

Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes.


Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro.

 

Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.


As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mas limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse.

 

De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, deveríamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar.

 

Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

 

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator Deus", esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o "fator Deus" em que o deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.


Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se.

Língua: O meu Deus

Língua: O meu Deus

28 de nov. de 2010

Lágrimas Ocultas.

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

(Florbela Espanca)

Dedicatória a alguém especial.

dedicatória para a alessandraAlessandra meu bem, você é a pessoa mais importante da minha vida. Alguém cuja facilidade de compreensão supera a dos psicólogos e psicanalistas. É fácil para si entender-me e, também, se fazer entendida. Você sabe sempre prever os meus atos com sabedoria. Seus julgamentos são sempre justos e, por isso, não há melhor forma de nominá-la, minha caríssima, de juíza justa dos meus valores. Bem sei que tenho me dedicado bastante para fazê-la sofrer, mas você insiste em receber as minhas investidas fatais de forma passiva e esportiva. Não se deixa nunca abater com meus impulsos execráveis e nunca perde a postura. Você está sempre pronta a ajudar-me, não pesa nunca os erros do passado e, permite-me sempre com sua maior estima de amizade ser o seu melhor amigo. Embora hoje não reproduzam as mesmas cores de antes, minha paixão e amor estão sempre eternizados a cada raiar do sol. Hoje a reconheço como meu melhor presente; trago e guardo-a no coração, embalada e enlaçada de lembranças presentes.

27 de out. de 2010

As diferenças culturais: tese – antítese – síntese

A partir da criação de um grupo homogêneo em que se definem povo e cultura, suas leis e bases fortalecidas pela comunhão de uma mesma consciência, há por período longo, uma estabilidade social. A sociedade e seu contrato social vivem num regime chamado de síntese. Não há conflitos; apenas harmonia. Mas a tendência humana é o dinamismo, a evolução; nada se conserva em seu ambiente, não por muito tempo. O ser humano cansa-se; reavalia seus princípios com a finalidade de melhorá-los; nada que se lhe apresenta é definitivo; é inconformado. Imagine uma comunidade formada por pouco mais de cem homens. Esse grupo precisa viver em harmonia, e para isso institui regras de conduta que correspondam a necessidade da vida grupal; O tempo passa, o grupo muda com novas gerações, mas as regras permanecem. O único ponto solto serão as regras. Elas se conservam com a história e a tradição do grupo. Mas o tempo continua passando e afastando as primeiras gerações que criaram o grupo das novas gerações e, com essa separação, acontece algo previsível: a história e a tradição passam a tornar-se obsoletas; a história começa a deturpar-se e a apagar-se para as novas gerações tornando fracas as influências primitivas do grupo. Nesse momento, o contrato social, as leis e bases desse grupo começam a ser contestadas, reavaliadas, mudadas. Passamos para um novo nível: a reconstrução ideológica do grupo.
Não é fácil derrubar os valores entranhados no grupo; o sentimento de confronto e o desejo de mudança serão sentidos, a princípio, por poucos dos participantes desse grupo. Haverá uma insatisfação e inconformismo quanto aos preceitos que regem as suas vidas e, desse modo, tudo se tornará estranho para a nova geração social. Nascerá a intolerância, a discórdia, a desordem, o caos. Uma parte do grupo precisará mudar porque não se adequará mais a sua sociedade. Haverá a separação. A separação do primeiro grupo não será fácil; costuma estar associada a muita batalha, porque nenhuma sociedade quer ver-se dividida; mas logo acontece: ter-se-á dois grupos, um oposto ao outro, defendendo ideais contrários; esse é o ponto chave da evolução de uma sociedade e seus valores. A divisão do grupo que formava uma sociedade uniforme abala toda a sua estrutura, pois ter-se-ia uma mesma sociedade formada por dois grupos com ideias opostas. Não ter-se-á uma cultura, uma identidade, uma lei; mas duas. Nascerá da unidade a multiplicidade e, consequentemente, a liberdade de escolha dos componentes da sociedade entre uma tradicional ou uma nova realidade ideológica.
Uma sociedade formada com ideais opostos não conseguirá viver em harmonia. Haverá muita tentativa de uniformizar e equilibrar a situação, mas essa resposta só virá depois de muitos confrontos e depois que o tempo trabalhar nas mentes dos indivíduos a conciliação das ideias positivas e aproveitáveis do grupo tradicional com as ideias positivas e aproveitáveis do grupo novo. Juntando-se o útil ao agradável, a mesclagem dos valores culturais dos dois grupos dará origem a um novo grupo, mais pacífico e com fácil tendência a assimilar os valores culturais dos dois primeiros grupos. O tempo e a distancia entre os costumes de gerações traduz essa tendência. Ainda que se tenha uma sociedade formada por três grupos e seus costumes, voltará pelo tempo determinado a reinar a harmonia disfarçada pela aceitação e homogeneização dessas culturas. Mas o processo de evolução continua; onde termina uma cultura, outra começa; e vive-se de novo e de novo o mesmo ciclo.

26 de out. de 2010

Conhecimento e Internet

A internet é uma ferramenta de produção de riquezas para quem a detêm e dela faz bom uso. Dessas riquezas se infere o conhecimento, mais valorizado do que nunca nas sociedades atuais.  A internet foi desenvolvida no início da década de 1970, com fim último de facilitar a comunicação entre comunidades e sua grande característica é o desenvolvimento social do homem moderno. Em pleno séc. XXI podemos considerar entre outras facilidades, a internet como sendo uma potencial ferramenta de manipulação e expansão de conhecimento. Uma sociedade organizada dentro dos parâmetros da inclusão digital dispõe de maiores recursos socioeconômicos. Quase todas as instituições nacionais se encaminham para o mundo digital, tecnológico, diminuindo seus custos efetivos humanos e aumentando seus lucros. À exemplo, empresas via internet como e-bay, wall-mart, submarino, internet bankings, e instituições com cursos à distância, etc.  Mas a proposta é falar sobre o conhecimento de forma generalizada com o auxilio da internet. Como podemos notar, aos adeptos da Word Wide Web, não há conhecimento produzido que não seja compartilhado na internet. Ainda que os conteúdos dessas produções fiquem restritos à comercialização, o marketing e a propaganda não deixam de fazer o seu trabalho, incentivar o consumo maciço. Exatamente o que ocorre no mundo moderno das tecnologias. Fabricamos informações, deduzimos conhecimento, vendemos e compramos essa ideia por que o conhecimento não é mais a moeda do futuro e sim do presente. É fato que os difusores de tevê, rádio e internet, produzem todo o conhecimento global aproximado às nossas consciências. Mas ao contrario da internet, na tevê e no do rádio, o individuo comum, por si só, não pode manipular nenhuma informação, é apenas um receptor ativo e transmissor passivo. Na internet o indivíduo é orientado por suas vontades e curiosidades de informação. Ela permite uma interação maior do indivíduo com as informações veiculadas por outras pessoas, permite ao indivíduo refutar e acrescentar, como exemplo o Wikipedia, a maior ferramenta de conhecimento global compartilhado. Seguindo a tendência do real motivo da invenção da internet, podemos citar também as ferramentas como Orkut, blogs, Messenger, em geral sites de relacionamentos, que servem para compartilhar informações interpessoais, estreitando as maiores distâncias e projetando um indivíduo mais social. As habilidades de uso que se fazem hoje da internet parecem ser inatas, haja vista, que os jovens de hoje já nascem inseridos nessa realidade, não a sua totalidade, mas a maior parcela. Essa tendência permite que a manipulação desse meio seja mais efetiva e produtiva, uma relação especial que orienta positivamente a maximização da prática e invenção de recursos mais organizados para uso liberal do homem.

A internet dentro da sala de aula pode facilitar a vida do professor de várias formas, é um recurso a ser utilizado em conjunto, com a cooperação dos alunos, dentro e fora mesmo da sala de aula. Uma aula bem planejada raramente necessita de um quadro e um piloto. O professor pode preparar a matéria a ser ministrada em casa, num programa de slides, em computador, com som, vídeos e imagens, a que chamamos ferramentas audiovisuais, permitindo maior dinamicidade. Em sala de aula após apresentação do conteúdo, pode-se facilmente conquistar e convencer os alunos a utilizarem também desses recursos para apresentarem um trabalho. Além disso, é possível desenvolver uma rede social dentro da escola que aproxime os alunos à prática de discussões e resoluções de problemas propostos em sala de aula. O professor pode informar um e-mail para envio de trabalhos, pode disponibilizar um site ou blog com os conteúdos revistos em sala de aula e informações curiosas que estimulem sempre a pesquisa de informação e fabricação de conhecimento no aluno.  Há vários usos para a internet, essa ferramenta inovadora que tem ampliado muitas expectativas do homem moderno. Não se faz nada sem ela, vivemos numa sociedade informatizada capaz de compreender e armazenar todo conhecimento humano e quem não faz uso dela obviamente despreza a realidade virtual e não colhe seus frutos.

Sérgio Ventura

19 de out. de 2010

O homem e a sociedade.

A crença na religião é o único caminho para a salvação do homem.

Sérgio Ventura

leidedeusmandamentosA vida em sociedade é marcada pela unidade de seus habitantes que em conjunto criam o que Rousseau outrora chamou de “O contrato social”. Deste contrato, todos os indivíduos prevalecem-se de regras estipuladas e instituídas pelos grupos dominantes no interior de cada sociedade que condicionam o modo de vida de cada habitante em si, sua relação entre os membros e sua finalidade dentro da própria sociedade. Ao que tudo indica, não foi possível determinar ainda, pelos estudos históricos já realizados, que existam sociedades não fundadas nesse contrato. Cumpre informar que o contrato social é formado por um conjunto de sistemas legislativos que assumem gradações e significados diferentes; mas pretendendo facilitar a sua definição, pôde-se empregar o nome religião. O contrato social é o contrato da religião. O social* estabelece o contrato; a religião, o mesmo. Observe-se: não existem grupos sociais sem um sistema legislativo; não existe religião sem um sistema legislativo. Os grupos que pertencem a determinado bloco só podem existir enquanto tal se estiverem dentro desse sistema; se fora, passam à margem; tornam-se estrangeiros em terra sem leis, sem organização, sem vida social.

Cada grupo dentro de sua sociedade organizada por leis determinadas, – e entenda-se que qualquer sociedade é regida por leis –, possui os benefícios de viver em comunidade. Para que esse benefício seja contínuo é necessário que esteja sempre, em sua mente, vigorando o espírito do grupo, da organização, da sociedade. O espírito daquele é o cerne da legislação, estando o indivíduo ajustado a ele, permite-o como nesta passagem bíblica, “pois onde duas ou três pessoas se tenham juntado em meu nome, aí estou eu no meio delas” (MATEUS, 18:20), ter o seu apoio, – leia-se, o apoio da sociedade –. Quando o indivíduo se opõe a essa sociedade, a sociedade se opõe a ele e o implica às suas leis, desfavorecendo-o em tudo e tirando dele todo sentido de uma vida em sociedade. O homem só é tal enquanto sociedade; tira-se essa e ele deixa de existir.

Associando a ideia de sociedade às regras de regência sociais, verifica-se que o homem só pode viver se tiver leis que rejam a sua vida e, dessa forma, é necessário entender como passamos do conceito legislativo ao conceito atual de religiões e das crenças. Há muitas definições para religião, e todas essas definições encontram seu fundamento na lei. Não há religião sem lei. Suponha-se que exista um grupo social formado por pouco mais de vinte pessoas; e essas pessoas vivam em grupo. Se cada uma dessas pessoas tivesse sua própria lei, se cada uma vivesse da forma que melhor lhe aprouvesse, ter-se-ia um grupo homogêneo? Certamente, não. Viver em sociedade exige que cada componente do grupo siga um mesmo ideal; a partir desse ideal ou ideologia, passa o grupo a criar a sua identidade: a identidade cultural. Toda e qualquer sociedade tem uma identidade, seja ela qual for, reflete suas marcas ideológicas, suas crenças e verdades, sobre tudo o que movimenta sua sociedade, por conseguinte a vida do homem.

As marcas ideológicas permanecem e tornam-se naturais, a história dessa sociedade forja nas mentes dos seus indivíduos uma visão única, homogênea e inquebrantável. Torna-se impossível ao indivíduo contestar toda a sua história; a história de sua vida.

A sociedade é composta por indivíduos; esses são regidos por leis; as leis refletem os costumes do grupo social; os costumes criam uma identidade no grupo, essa identidade compõe-se de ideologias que se tornam as crenças que, definitivamente, solidificam uma cultura. Todo indivíduo possui uma cultura: a cultura de seu povo. “A verdade do meu povo será a verdade da minha alma”.

As leis que governam a cultura do indivíduo precisam ter poder. Um indivíduo só é governado por leis que estejam associadas ao poder. A lei de uma sociedade precisa ser uma lei poderosa. Aquele que detém o poder manda; e o que não, cumpre. Pergunte-se nesse exato momento: quem tem o poder; quem manda dentro de uma sociedade? O homem? Ainda que seja formada uma sociedade e sua cultura pelo homem, o poder de regência não pode estar nele. Todo homem dentro de sua sociedade que quiser atribuir a si o poder de legislar falhará, pois um homem é igual a outro, diferindo-se apenas nos papeis que cada um exerce dentro da mesma sociedade, e tendo em vista a unidade das leis que regem um grupo social, seria fácil, se a lei, logo, o poder estivesse no homem, vir outro homem para tomá-lo. Não daria certo. Todos os homens lutariam para ter esse poder. A sociedade estaria disseminada e nada do que se convencionou no grupo social o levaria a progredir. Para que a sociedade não pudesse ser destruída pela corrupção humana, pelo egoísmo, os grupos dominantes coroaram aquele que não pode ser tocado, derrubado levado ao chão: Deus. Nesse objeto foi depositado o contrato social que regulamenta a vida de qualquer indivíduo, de qualquer sociedade. O homem não manda porque o homem não tem poder; se tivesse poder outro homem o tiraria. Mas quem pode auferir um poder que não está ao alcance?

Os indivíduos formam grupos de poder que organizam o contrato social e determinam o melhor modo de vida de sua sociedade; o contrato é um conjunto de leis elaboradas e massificadas no corpo social. O contrato precisa de uma casa e de um dono que o proteja e o faça valer: religião e deus. A religião é a identidade cultural do grupo; são todos os valores e costumes que ensinaram ao homem a ser o que é. Deus é a força; a crença; a ideologia; o motivo de o homem ser o que é. Religião e deus são a sociedade; os indivíduos compõem a sociedade, logo são a religião e deus, enquanto sociedade.

Tudo o que o homem aprende está inserido na sociedade; tudo o que ele é, é dado pela sociedade. A pergunta é: o que acontece quando esse homem se opõe a sua própria sociedade? As leis que governam o espírito do indivíduo exercem duas faces: a justa e a injusta. Um indivíduo só pode beneficiar dos valores do seu grupo enquanto estiver dentro desse grupo, enquanto seguir as regras de conduta, os direitos e deveres estipulados pelo grupo, os costumes; a tradição, etc. Terá, desse modo, uma vida justa e compensada. Sabendo-se que as relações entre indivíduos fortalecem o desenvolvimento da sociedade, a produtividade, a evolução, o indivíduo estará amparado, assegurado, garantido; salvo. Quando, por quaisquer razões, o indivíduo se opõe a sua própria realidade, a verdade de sua vida; tudo se lhe apresentará averso. Contrário. Tanto do ponto de vista dele como do da própria sociedade. Se ele nega a sua sociedade, a sociedade nega-o. Ele não pode participar da sociedade que nega sem causar estragos, e esses têm consistência negativa para a sociedade e por isso serão combatidos. O indivíduo será repudiado, sancionado, purgado ou condenado. A lei de uma sociedade serve para ser seguida e cumprida e aquele que não o faz é punido. O que a sociedade dá ao homem enquanto associado; também o recebe enquanto dissociado. Um homem não é nada fora de uma sociedade; é uma sombra no escuro; é um ponto indecifrável no mapa; é um homem sem causa; perdido; vazio.

Todas as crenças do homem estão apoiadas na sociedade que o criou, e todas as verdades de seu espírito estão ligadas às mesmas verdades dos participantes do seu grupo. Crer no grupo é uma forma de apoiar-se a uma força que dá sustento e segurança; crer no grupo, na sua sociedade, só traz benefícios; é o único caminho para a salvação do indivíduo; o homem tem um contrato: viver em sociedade e segundo suas leis. Por isso, o homem é um ser social e um ser religioso; o homem... é um ser de Deus.

30 de set. de 2010

O ensino natural

A natureza ensina ao homem doando-lhe conhecimentos positivos ou negativos. O homem, em geral, nasce com a capacidade de apreender tudo o que se põe ao seu redor, tornando-se um aprendiz nato. Mas esse ambiente não filtra o que lhe seja útil ou não útil conhecer. A transferência de informações, recebidas a nível sensório-motoras, invadem-no com o peso da paixão e do ódio. Uma primeira queimadura, ou um chute na pedra que o tira pela primeira vez uma unha; um banho gelado, ou o ficar no frio sem agasalho causando-lhe uma gripe ou uma pneumonia; um primeiro beijo, ou uma resposta acertada sobre alguma questão; andar de bicicleta, ou de patins, ou de skate sem cair; são experiências que agregam sentido à vida de um homem, ambas, boas ou más, que acrescentadas aos padrões culturais de cada sociedade, darão a ele uma forma, uma consciência seletiva ocasionada, não pelo ensino humano, mas pelo conjunto de sensações atribuídas pelo ambiente; pela natureza.

31 de ago. de 2010

Sim ou não à pena de morte?

Dois argumentos:

1. Deve-se legalizar a pena de morte no Brasil.

2. Não se deve legalizar a pena de morte no Brasil.

A legalização da pena de morte no Brasil é um fato contundente que deve ser apurado em todas as suas condicionantes para se ter de fato uma certeza quanto a sua efetivação. Apesar de termos convivido atualmente com a deflagração da violência indômita e sabendo que todos os recursos aplicados pelo governo Federal e Estadual no intuito de aplacar tal situação se mostram ineficazes, é justo ter-se como última ferramenta ideológica a sanção da pena de morte. As milhares de famílias destruídas por conta da violência e que até hoje esperam justiça, os milhares de presos que são libertos pelo indulto desregrado do sistema penitenciário e que voltam a reincidir nos mesmos crimes pelos quais foram presos, etc. são uma assertiva de que o único modo de conter a violência nos estados é, a prova de fogo, incutir medo na população criminosa devastando-a com esta nova lei.

Mas se pensarmos que somente e/ou tão somente por este caminho é possível conseguir tal empresa estaremos sendo medíocres. A legalização da pena de morte pouco influenciaria no índice de violência e causaria mais frustração e dor a muitas outras famílias. O Brasil é um país com bases muito fortes na religião Cristã, e segundo os preceitos da mesma, e ao contrário da lei de Nabucodonosor “OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE”, nenhum homem tem o direito de tirar a vida de outrem, muito menos o Estado. Podemos ter também como exemplos outros países, em especial, os Estados Unidos da América que adotam na maioria dos Estados esta Lei e, mesmo assim, não foi capaz de liquidar a violência. Devemos desviar a nossa atenção para possível resolução deste problema no cerne familiar, na educação e reeducação de todas as crianças do Brasil.

A pena de morte pode ser efetivamente descartada se o estado definir um sistema completo e capaz, legislativo e executivo, que possa valer definitivamente a constituição penal, além desenvolver sistemas concretos de re-inclusão social, expansão da rede de penitenciárias com significativa infra-estrutura, etc. Pois é pela falta dessas estruturas que chegamos ao limite de não vermos outra opção a não ser a pena de morte.

24 de ago. de 2010

Quisera ter!

Quisera ter asas para poder voar longe, onde os infortúnios da vida não me pudessem alcançar; e ter, grosso modo, no céu, o paraíso prometido aos fieis de coração. Além do horizonte, em que eu pudesse cantar os hinos da liberdade, revivendo só as melhores lembranças. Abraçar os velhos bons amigos; relembrar as mais tenras sensações; desfrutar dos prazeres da alma: o gosto, a paixão, o amor pelas pessoas, pela natureza; pela vida. Quisera ter a vida contada num livro que estimulasse gerações e gerações, tal qual a frase de “Maximus”, “o que fazemos em vida ecoa na eternidade”, para que pudesse ser lembrado e assim reviver nos corações de cada leitor todas as incontáveis alegrias por que passaria. Quisera poder ter tudo o que não tive: um paraíso, os bons velhos amigos, as tenras sensações; uma biografia; um presente feliz.

13 de ago. de 2010

O Tempo que cega!

Cega-me o tempo os sentimentos que mais amo. Hoje, na distante escuridão, falta-me algo… tão importante. Mas... tão esquecido que ando, foge-me à memória esse objeto. Os meses foram-se; demoradamente fizeram-me a lavagem cerebral e, sem remorso, deram-me um sentimento de falta, indescritível, profundo, triste. "o que havia lá atrás, no passado", pergunto-me! "sinto vivamente que eu não era melancólico, pelo contrário, audaciosamente feliz; mas o que será que me fazia tão contente?!!!" Ah! esse tempo!, como é repugnante! Penso que viverei com essa ansiedade de conhecer e viver o segredo de uma felicidade de outrora, "quem sabe", vivida, aproveitada; hoje, negada; desconhecida!

20 de jul. de 2010

Igualdade de direitos.

As mulheres estão assumindo cada vez mais posições sociais que os homens. É de notar que, até há pouco tempo, as mulheres ficavam em casa cuidando da família. O seu trabalho era globalmente doméstico. O homem era o responsável pelo sustento da família. Todavia, a realidade inverteu-se: o homem não precisa mais trabalhar. A mulher o faz com muito mais qualidade e competência. Vê-se que a ideologia da igualdade de direitos entre homens e mulheres não só funcionou como inverteu os valores nas sociedades. Parabéns mulheres!!!

15 de jul. de 2010

Bom dia, Natureza!

Vejo as árvores enterradas em meu quintal, abanando suas verdes folhagens sob um sol infernal. Elas estão aí, passando-nos despercebidas, mas produzindo, nosso oxigênio, nosso ar: vento invisível, confortante, abençoado! Às árvores, às plantas, às sementes, o meu bom dia!

13 de jul. de 2010

O super-homem revelou-se. O que ele faria para mudar o rumo de uma sociedade decadente: Angola?

 

Um super-homem disfarçado de homem comum entre os habitantes da aclamada República de Angola ficou por muito tempo a observar o desempenho de uma sociedade que, como outras, conseguiu vencer, a duras penas, uma de muitas batalhas contra o colonialismo, espécie de escravidão moderna na época. É fato que essa batalha só foi vencida com o apoio do super-homem, mas foi uma grande exceção feita, pois o hóspede raramente se intromete nos assuntos humanos. Ele é um mero expectador e costuma ajudar os humanos apenas com a sua filosofia: "saber distinguir o bem e o mal é o caminho adequado para a resolução de todos os problemas sociais". Ele, sempre paciente e confiante de que os erros humanos sejam superados antes de qualquer catástrofe, ficou, todavia, por mais de 30 anos, esperando o super desenvolvimento dessa sociedade e, por sinal, sua residência: Angola. Mas o tempo e as expectativas não se fizeram cumprir e, grosso modo, o Super-homem frustrou-se e tomou medidas drásticas.

Os responsáveis pela libertação de Angola do sistema colonial, pré 75, tiveram 35 anos, após a independência, para reerguer seu país. Mas por culpa de uma lei filosófica e imperativa no mundo animal: "a lei da sobrevivência; a lei do mais forte", leia-se Darwin, o país, sedutor por princípio e néctar dos deuses, tornou-se um vício, assim como toda e qualquer droga inventada, para seus dirigentes. Todo vício torna o seu consumidor dependente, mais do que isso, egoísta. É justamente esse sentimento que tomou os corações da elite que dirigiu a conquista da primeira liberdade do país. "O vício corrompe os corações humanos; é preciso combatê-lo antes que os derrube". Esse foi o conselho dado pelo hóspede. Mas não o foi ouvido. Os grupos de poder tornaram-se cegos e travaram entre si grandes batalhas para serem os únicos detentores da grande droga; e como num jogo de xadrez, precisaram, para salvaguardar suas vidas, usar os peões como escudo. O super-homem sabe que uma droga em dose adequada torna-se um santo remédio e se essa droga fosse repartida de igual modo para todos os participantes na mesa de xadrez, a sociedade envolvida não teria motivos para competir; para guerrear. A droga não foi fracionada, destruiu a percepção humana e alvoroçou o coração do povo, o principal prejudicado nessa história. Daí em diante, a sociedade culminou em caos, irreversível.

O super-homem interveio; submeteu a lei da dualidade humana às suas leis e, com isso, derrubou um dos grupos com maior poder de concorrência e deixou que o outro grupo retomasse o antigo sonho de partilha, de liberdade, de uma sociedade harmônica e saudável. Embora fosse crível a ideologia e o sonho declarados ao super-homem pelo grupo responsável pela nova gerência, o grupo majoritário ignorou a força de um deus entre os homens e continuou errando em sua política social: essa elite começou a monopolizar todos os recursos da terra e a transformar a sociedade, por si só o povo, em sua ferramenta de produção, de enriquecimento, de transformação. O povo se tornou submetido, escravo. E como a história ensina: "os escravos nunca tiveram vida própria, vida boa, vida saudável, vida assegurada; vivem para os outros seres humanos iguais a si em forma e substância". Cansado de tanto sofrimento e sabendo-se, o super-homem, parte dessa sociedade, decidiu, a contragosto, tomar uma última decisão: eliminar pelas próprias mãos todos os responsáveis pela gerência inconsistente desse país, conforme o fez, outro deus, em Sodoma e Gomorra e com o grande dilúvio em várias épocas. Nada mais razoável eliminar e, ao contrário de outros deuses, deixaria incólume o povo explorado e sofrido e faria deles o amanhecer de um novo sonho de conquista.

 

24 de jun. de 2010

Errei - Sururu Na Roda

Errei

Por minha culpa não te dei valor

Eu sei

Que machuquei o seu coração
Mas fui

Iludido por um falso amor

Que causou muito sofrimento e dor

E agora vejo a minha ingratidãoVolta pra mim (Volta pra mim)

Não faz assim (Não faz assim)

Nossa estoria de amor

Não pode ter sido em vãoPois sem você (Pois sem você)

É tão ruim (É tão ruim)

Hoje eu venho te pedir perdãoMe perdoa meu bem

Que a saudade é tamanha

Se me deixa ficar

Eu prometo a você, serei só seu amor

Se você quiser (2 vezes)

Largo da bohemia pra me redimir

Pois o nosso amor

É mais forte que o erro que eu cometi

Errei...

2 de jun. de 2010

Trajetória

Trajetória

Maria Rita

Composição: Arlindo Cruz / Serginho Meriti / Franco

Não perca tempo assim contando história
Pra que forçar tanto a memória
Pra dizer
Que a triste hora do fim se faz notória
E continuar a trajetória
É retroceder
Não há no mundo lei que possa condenar
Alguém que a um outro alguém deixou de amar
Eu já me preparei, parei para pensar
E vi que é bem melhor não perguntar
Porque é que tem que ser assim
Ninguém jamais pôde mudar
Recebe menos quem mais tem pra dar
E agora queira dar licença, que eu já vou
Deixa assim, por favor
Não ligue se acaso o meu pranto rolar, tudo bem
Me deseje só felicidade, vamos manter a amizade
Mas não me queira só por pena
Nem me crie mais problemas
Nem perca tempo assim contando história...
(volta ao início)

Insone narrador

Caros amigos, hoje não é o narrador sentimental que vos fala, é apenas a voz da consciência vazia que vara a noite insone tentando perceber algo diferente em tudo o que o rodeia. Pelo que vê, ao seu redor, só escuridão. As luzes estão apagadas e diante dele, a tela do pc com suas letras redigitadas, paulatinamente. Mas no som do “real player”, a música “você é linda”, de caetano Veloso, essa sim, seu aconchego diário, reminiscência viva do passado vívido no peito, na alma. Triste narrador, pensando em suas composições sem nexo, fundamentadas na vida medíocre que teve, nas poucas experiências e na velhice precoce em que se meteu. Em sua alma revolta-se em turbulentos pesadelos a pergunta exotérica: o sentido que tem para si a vida, a pergunta principal que mereceria profunda pesquisa, hábito cotidiano dele, mas fracassada pela falta de tempo. - O tempo narrado é o tempo perdido –, conlui. Nada do que se escreve dará melhor sentido à vida do narrador, pois nada do que se escreve é real. O producto final aparecerá mil vezes alterado pela perspicácia daquele que escreve intencionalmente maqueando suas emoções e as fingindo verdadeiras nas letras que se consagram lidas e realizadas. Dá-se em seu pensamento justamente essa idéia de que a vida é uma farsa constante. Tenta-se fazer dela um quadro perfeito, um teatro, um filme, tenta-se planejá-la ao modo do arquiteto, contudo acontece do traço do pintor falhar e termos uma obra prima como a Monalisa ou mesmo o projecto do bom arquiteto da torre de Pizza, também falho, mas louvável pela inclinação secular; arte de vida, vida artística. Não há generalizações, mas no narrador consome-se essa idéia de traços tortos que acertam o caminho destinado. A vida tem pernas próprias, levam-no a cada zona e não pedem permissão para o encantar ou desencantar. Os caminhos cruzados, os acertados e os errados, são-no ao todo responsabilidade das pernas tortas da vida. Não o queira advinhar; apenas truques e enganos querer o controle da vida. Pois! mal fadado exála-se na fumaça do “Hollyhood’s cigarettes”, tentando sistematizar um exemplo de vida que mereça reconhecimento, mas a fumaça entranhando em seu organismo disfarça-se de bom convidado para fazer seu estrago; só quem não percebe é o narrador, demais concentrado nas suas idealizações.

Sérgio Ventura

29 de mai. de 2010

O brilho das estrelas

O brilho das estrelas, para chegar até nós, percorre distancias imensuráveis e só podemos aproveitá-lo por pouco tempo, pois, na sua maior parte, as estrelas já estão mortas. Cabe, dessa forma, aproveitar os poucos momentos de “shows” luminosos da noite, com seu céu estrelado, que a cada minuto, hora, dia ou ano, reduz sua resplandecência, significativamente.

Sérgio Ventura

Chimamanda Adichie: “O perigo de uma única história”.

Chimamanda Adichie: “O perigo de uma única história”.

http://www.ted.com/talks/lang/por_br/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

Translated into Portuguese (Brazil) by Erika Barbosa

Reviewed by Belucio Haibara

Eu sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar "o perigo de uma história única". Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com dois anos, mas eu acho que quatro é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos. Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos sete anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs. (Risos da plateia) E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido. (Risos da plateia), apesar do fato que eu morava na Nigéria.

Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário. Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tivesse a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. (Risos da plateia) E por muitos anos depois, eu desejei desesperadamente experimentar cerveja de gengibre. Mas isso é outra história. A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis em face de uma história, principalmente quando somos crianças. Porque tudo que eu havia lido eram livros nos quais as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me de que os livros, por sua própria natureza, tinham que ter estrangeiros e tinham que ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Bem, as coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos. Não havia muitos disponíveis e eles não eram tão fáceis de encontrar quanto os livros estrangeiros, mas devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye eu passei por uma mudança mental em minha percepção da literatura. Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura.

Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia. Bem, eu amava aqueles livros americanos e britânicos que eu lia. Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos. Mas a consequência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvo um e de ter uma única história sobre o que os livros são. Eu venho de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor. Minha mãe, administradora. Então nós tínhamos como era normal, empregada doméstica, que frequentemente vinha das aldeias rurais próximas. Então, quando eu fiz oito anos, arranjamos um novo menino para a casa. Seu nome era Fide. A única coisa que minha mãe nos disse sobre ele foi que sua família era muito pobre. Minha mãe enviava inhames, arroz e nossas roupas usadas para sua família. E quando eu não comia tudo no jantar, minha mãe dizia: "Termine sua comida! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não tem nada?" Então eu sentia uma enorme pena da família de Fide. Então, num sábado, nós fomos visitar a sua aldeia e sua mãe nos mostrou um cesto com um padrão lindo, feito de ráfia seca por seu irmão. Eu fiquei atônita! Nunca havia pensado que alguém em sua família pudesse realmente criar alguma coisa. Tudo que eu tinha ouvido sobre eles era como eram pobres, assim havia se tornado impossível pra mim vê-los como alguma coisa além de pobres. Sua pobreza era minha história única sobre eles.

Anos mais tarde, pensei nisso quando deixei a Nigéria para cursar universidade nos Estados Unidos. Eu tinha 19 anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, por acaso, a Nigéria tinha o inglês como sua língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir o que ela chamou de minha "música tribal" e, consequentemente, ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita da Mariah Carey. (Risos da plateia) Ela presumiu que eu não sabia como usar um fogão. O que me impressionou foi que: ela sentiu pena de mim antes mesmo de ter me visto. Sua posição padrão para comigo, como uma africana, era um tipo de arrogância bem intencionada, piedade. Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais. Eu devo dizer que antes de ir para os Estados Unidos, eu não me identificava, conscientemente, como uma africana. Mas nos EUA, sempre que o tema África surgia, as pessoas recorriam a mim. Não importava que eu não soubesse nada sobre lugares como a Namíbia. Mas eu acabei por abraçar essa nova identidade. E, de muitas maneiras, agora eu penso em mim mesma como uma africana. Entretanto, ainda fico um pouco irritada quando se referem à África como um país. O exemplo mais recente foi meu maravilhoso voo de Lagos, dois dias atrás, não fosse um anúncio de um voo da Virgin sobre o trabalho de caridade na "Índia, África e outros países". (Risos da plateia) Então, após ter passado vários anos nos EUA como uma africana, eu comecei a entender a reação de minha colega para comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria e se tudo que eu conhecesse sobre a África viesse das imagens populares, eu também pensaria que a África fosse um lugar de lindas paisagens, lindos animais e pessoas incompreensíveis, lutando guerras sem sentido, morrendo de pobreza e AIDS, incapazes de falar por elas mesmas e esperando serem salvos por um estrangeiro branco e gentil. Eu veria os africanos do mesmo jeito que eu, quando criança, havia visto a família de Fide. Eu acho que essa única história da África vem da literatura ocidental. Então, aqui temos uma citação de um mercador londrino chamado John Locke, que navegou até o oeste da África em 1561 e manteve um fascinante relato de sua viagem. Após referir-se aos negros africanos como "bestas que não tem casas", ele escreve: "Eles também são pessoas sem cabeças, que “têm sua boca e olhos em seus seios.” Eu rio toda vez que leio isso, e deve-se admirar a imaginação de John Locke. Mas o que é importante sobre sua escrita é que ela representa o início de uma tradição de contar histórias africanas no Ocidente. Uma tradição da África subsaariana como um lugar negativo, de diferenças, de escuridão, de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta, Rudyard Kipling, são "metade demônio, metade criança". E então eu comecei a perceber que minha colega de quarto americana deve ter, por toda sua vida, visto e ouvido diferentes versões de uma única história. Como um professor, que uma vez me disse que meu romance não era "autenticamente africano". Bem, eu estava completamente disposta a afirmar que havia uma série de coisas erradas com o romance, que ele havia falhado em vários lugares. Mas eu nunca teria imaginado que ele havia falhado em alcançar alguma coisa chamada autenticidade africana. Na verdade, eu não sabia o que era "autenticidade africana". O professor me disse que minhas personagens pareciam-se muito com ele, um homem educado de classe média. Minhas personagens dirigiam carros, elas não estavam famintas. Por isso elas não eram autenticamente africanas.

Mas eu devo rapidamente acrescentar que eu também sou culpada na questão da única história. Alguns anos atrás, eu visitei o México saindo dos EUA. O clima político nos EUA àquela época era tenso. E havia debates sobre imigração. E, como frequentemente acontece na América, imigração tornou-se sinônimo de mexicanos. Havia histórias infindáveis de mexicanos como pessoas que estavam espoliando o sistema de saúde, passando às escondidas pela fronteira, sendo presos na fronteira, esse tipo de coisa. Eu me lembro de andar no meu primeiro dia por Guadalajara, vendo as pessoas indo trabalhar, enrolando tortilhas no supermercado, fumando, rindo. Eu me lembro que meu primeiro sentimento foi surpresa. E então eu fiquei oprimida pela vergonha. Eu percebi que eu havia estado tão imersa na cobertura da mídia sobre os mexicanos que eles haviam se tornado uma coisa em minha mente: o imigrante abjeto. Eu tinha assimilado a única história sobre os mexicanos e eu não podia estar mais envergonhada de mim mesma. Então, é assim que se cria uma única história: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que ele se tornará.

É impossível falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo, que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é "nkali". É um substantivo que livremente se traduz: "ser maior do que o outro". Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do "nkali". Como é contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve que se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história, e começar com "em segundo lugar". Comece uma história com as flechas dos nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso do estado africano e não com a criação colonial do estado africano e você tem uma história totalmente diferente.

Recentemente, eu palestrei numa universidade onde um estudante me disse que era uma vergonha que homens nigerianos fossem agressores físicos como a personagem do pai no meu romance. Eu disse a ele que eu havia terminado de ler um romance chamado "Psicopata Americano" - (Risos da plateia) e que era uma grande pena que jovens americanos fossem assassinos em série. (Risos da plateia e aplausos) É óbvio que eu disse isso num leve ataque de irritação. (Risos da plateia)

Nunca havia me ocorrido pensar que só porque eu havia lido um romance no qual uma personagem era um assassino em série, que isso era, de alguma forma, representativo de todos os americanos. E agora, isso não é porque eu sou uma pessoa melhor do que aquele estudante, mas, devido ao poder cultural e econômico da América, eu tinha muitas histórias sobre a América. Eu havia lido Tyler, Updike, Steinbeck e Gaitskill. Eu não tinha uma única história sobre a América.

Quando eu soube, alguns anos atrás, que escritores deveriam ter tido infâncias realmente infelizes para ter sucesso, eu comecei a pensar sobre como eu poderia inventar coisas horríveis que meus pais teriam feito comigo. (Risos da plateia) Mas a verdade é que eu tive uma infância muito feliz, cheia de risos e amor, em uma família muito unida. Mas também tive avós que morreram em campos de refugiados. Meu primo Polle morreu porque não teve assistência médica adequada. Um dos meus amigos mais próximos, Okoloma, morreu num acidente aéreo porque nossos caminhões de bombeiros não tinham água. Eu cresci sob governos militares repressivos que desvalorizavam a educação, então, por vezes, meus pais não recebiam seus salários. E então, ainda criança, eu vi a geleia desaparecer do café-da-manhã, depois a margarina desapareceu, depois o pão tornou- se muito caro, depois o leite ficou racionado. E acima de tudo, um tipo de medo político normalizado invadiu nossas vidas.

Todas essas histórias fazem de mim quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias que me formaram. A “única história cria estereótipos”. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história. Claro, África é um continente repleto de catástrofes. Há as enormes, como as terríveis violações no Congo. E há as depressivas, como o fato de 5.000 pessoas candidatarem-se a uma vaga de emprego na Nigéria. Mas há outras histórias que não são sobre catástrofes. E é muito importante, é igualmente importante, falar sobre elas. Eu sempre achei que era impossível relacionar-me adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem relacionar-me com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A consequência de uma única história é essa: ela rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes. E se antes de minha viagem ao México eu tivesse acompanhado os debates sobre imigração de ambos os lados, dos Estados Unidos e do México? E se minha mãe nos tivesse contado que a família de Fide era pobre E trabalhadora? E se nós tivéssemos uma rede televisiva africana que transmitisse diversas histórias africanas para todo o mundo? O que o escritor nigeriano Chinua Achebe chama "um equilíbrio de histórias." E se minha colega de quarto soubesse do meu editor nigeriano, Mukta Bakaray, um homem notável que deixou seu trabalho em um banco para seguir seu sonho e começar uma editora? Bem, a sabedoria popular era que nigerianos não gostam de literatura. Ele discordava. Ele sentiu que pessoas que podiam ler, leriam se a literatura se tornasse acessível e disponível para elas. Logo após ele publicar meu primeiro romance, eu fui a uma estação de TV em Lagos para uma entrevista. E uma mulher que trabalhava lá como mensageira veio a mim e disse: "Eu realmente gostei do seu romance, mas não gostei do final. Agora você tem que escrever uma sequência, e isso é o que vai acontecer..." (Risos da plateia) E continuou a me dizer o que escrever na sequência. Agora eu não estava apenas encantada, eu estava comovida. Ali estava uma mulher, parte das massas comuns de nigerianos, que não se supunham ser leitores. Ela não só tinha lido o livro, mas ela havia se apossado dele e se sentia no direito de me dizer o que escrever na sequência. Agora, e se minha colega de quarto soubesse de minha amiga Fumi Onda, uma mulher destemida que apresenta um show de TV em Lagos, e que está determinada a contar as histórias que nós preferimos esquecer? E se minha colega de quarto soubesse sobre a cirurgia cardíaca que foi realizada no hospital de Lagos na semana passada? E se minha colega de quarto soubesse sobre a música nigeriana contemporânea? Pessoas talentosas cantando em inglês e Pidgin, e Igbo e Yoruba e Ijo, misturando influências de Jay-Z a Fela, de Bob Marley a seus avós. E se minha colega de quarto soubesse sobre a advogada que recentemente foi ao tribunal na Nigéria para desafiar uma lei ridícula que exigia que as mulheres tivessem o consentimento de seus maridos antes de renovarem seus passaportes? E se minha colega de quarto soubesse sobre Nollywood, cheia de pessoas inovadoras fazendo filmes apesar de grandes questões técnicas? Filmes tão populares que são realmente os melhores exemplos de que nigerianos consomem o que produzem. E se minha colega de quarto soubesse da minha maravilhosamente ambiciosa trançadora de cabelos, que acabou de começar seu próprio negócio de vendas de extensões de cabelos? Ou sobre os milhões de outros nigerianos que começam negócios e às vezes fracassam, mas continuam a fomentar ambição? Toda vez que estou em casa, sou confrontada com as fontes comuns de irritação da maioria dos nigerianos: nossa infraestrutura fracassada, nosso governo falho. Mas também pela incrível resistência do povo que prospera apesar do governo, ao invés de devido a ele. Eu ensino em workshops de escrita em Lagos todo verão. E é extraordinário pra mim ver quantas pessoas se inscrevem, quantas pessoas estão ansiosas por escrever, por contar histórias. Meu editor nigeriano e eu começamos uma ONG chamada Farafina Trust. E nós temos grandes sonhos de construir bibliotecas e recuperar bibliotecas que já existem e fornecer livros para escolas estaduais que não têm nada em suas bibliotecas, e também organizar muitos e muitos workshops, de leitura e escrita para todas as pessoas que estão ansiosas para contar nossas muitas histórias. Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias têm sido usadas para expropriar e tornar maligno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida. A escritora americana Alice Walker escreveu isso sobre seus parentes do sul que haviam se mudado para o norte. Ela os apresentou a um livro sobre a vida sulista que eles tinham deixado para trás. "Eles sentaram-se em volta, lendo o livro por si próprios, ouvindo-me ler o livro e um tipo de paraíso foi reconquistado." Eu gostaria de finalizar com esse pensamento: Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso. Obrigada. (Aplausos).

Autor/ Narrador

Caro leitor ou leitora, o acaso de alguma ofensa nos textos disponibilizados não têm essa intensão. Na vida de quem escreve, qualquer argumento é válido para tecer um texto cuja intensão pode ser a de causar reflexão, contradição, incômodo, prazer ou vaidade. A refêrencia pode ser pessoal ou impessoal, observação própria de si ou de outrem; o que não falta são fontes para a composição do texto quando se tem como prerrogativa o ensaio, o exercício, a práctica. Ler é tão difícil quanto escrever, e da mesma forma que se demora para compor um período, pensando-se nas palavras adequadas, na justa posição da escrita, nas referências argumentativas, assim o é com a leitura. Todas as palavras precisam ser lidas e traduzidas, contextualizadas e descontextualizadas. Deve-se-lhes inferir as hipóteses interpretativas e não esquecer da hemenéutica, “do verbo grego "hermēneuein" que significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão”. – Caro leitor, obrigado pela participação no “blog”, mas os textos têm apenas a intensão de participar uma visão simples e descontinuada sobre relacionamentos e frustrações do cotidiano, novidades da ciência e novidades sobre o comportamento da “psiquê”. Portanto, por quaisquer outros motivos, desvencilhe-se a relação autor-narrador. Ter a mente aberta é um dom natural proporcionado pelo gene “homo sapiens”. A mente aberta permite uma visão apurada dos factos, permite analisar sob diferentes ângulos as linhas sinuosas da vida, permite compreender de forma justa; julgar imparcialmente.

Sérgio Ventura

"Eu" como testemunha

("I" as witness)

Seguindo na classificação de Friedman, o narrador-testemunha dá um passo adiante rumo à apresentação do narrado sem a mediação ostensiva de uma voz exterior.

Ele narra em 1.a pessoa, mas é um "eu" já interno à narrativa, que vive os acontecimentos aí descritos como personagem secundária que pode observar, desde dentro, os acontecimentos, e, portanto, dá-los ao leitor de modo mais direto, mais verossímil. Testemunha, não é à toa esse nome: apela-se para o testemunho de alguém, quando se está em busca da verdade ou querendo fazer algo parecer como tal.

No caso do "eu" como testemunha, o ângulo de visão é, necessariamente, mais limitado. Como personagem secundária, ele narra da periferia dos acontecimentos, não consegue saber o que se passa na cabeça dos outros, apenas pode inferir, lançar hipóteses, servindo-se também de informações, de coisas que viu ou ouviu, e, até mesmo, de cartas ou outros documentos secretos que tenham ido cair em suas mãos. Quanto à distância em que o leitor é colocado, pode ser próxima ou remota, ou ambas, porque esse narrador tanto sintetiza a narrativa, quanto a apresenta em cenas. Neste caso, sempre como ele as vê.

P.S.: É preciso separar Autor de Narrador e esse de personagem, são pessoas diferentes com histórias diferentes.

 

Ref.:  LEITE, Ligia Chiappini Moraes . O foco narrativo: a polêmica em torno da ilusão. São Paulo: Ática, (S/D).pp. 37-38.

Sérgio Ventura

28 de mai. de 2010

No século da pressa se come cru!

As jovens de hoje trazem em sua bagagem um perfil deveras contrastante com o do século passado. Já se sabe que a globalização acelerou bastante o processo de comunicação, – tanto é – , que vê-se o homem (incluindo-se a mulher também) como ser multifuncional, um faz-tudo em tempo real. Mas quando se trata de relacionamentos, o que deveria ser diferente, acaba, justamente, sincronizado e adequado à essa tendência “speed like World Wide Web”, rápida e de fácil localização na fonte dos desejos saciados como no “Google pesquisa” ou em qualquer esquina da cidade. Nos relacionamentos do século atual, XXI, acontece, sem pudor e/ou mesura do léxico, o seguinte desenlaçe nas mulheres, jovens e meninas, para o aumento da rede interpessoal, hoje producto do “homo sapiens carere”: As jovens acham que podem se envolver com qualquer bonitão que aparece às vistas e, devido a um superficialismo corrente, tendem a experimentar tudo de forma tão crua, rápida e passageira, como o ditado “quem tem pressa come cru” Elas não dão mais oportunidade à exploração do “ego” e do “tu”, pulam sem pudor do “oi tudo bem, quem é você?”, para o “oi, você é muito lindo, quero transar contigo… mostre-me do que você é capaz… o que você tem, delícia de gato…”. – Ah! Que moderno!!! Nessa pressa, acaba-se por não degustar; o paladar deixa de ser treinado, estimulado e, como consequência, azeda rápido e torna-se indigesta, a delícia de refeição. Quando se refere à informações cruas do “Google”, tem-se pautado que uma pesquisa acurada produz melhores resultados do que uma “colinha” do resultado da primeira página de pesquisa da “web”, por esse motivo, todas as meninas inclusas nesse perfil, acabam se tornando incapazes de manter um relacionamento adequado e duradouro.

Sentido da vida na morte consciente

Mata-me o remorso dos amores do passado que muita importância tiveram em minha curta vida. Hoje, defunto enterrado, remoo no passado as glórias vividas, o entusiasmo dos vícios da juventude, da fidelidade das paixões, do compromisso com o outro. Minha santa vida em seus santos dias que distorceu a realidade de muitas mentes e causou bastante turbulência que, mesmo neste momento, vibram, à sete palmos, o meu desprezível caixão. Realidade do mundo e dos indivíduos que ao redor davam o sentido majestoso do bem viver; agora, vazios e nulos, neste mundo das profundezas. Os amores trataram-me por amigo, amante, conselheiro; divino. E eu a eles como tudo o que de mais sagrado se pôde ter. Os vícios se confundem em malefícios, mas não o são com certeza, o leitor os perceberá induzidamente como virtudes dos erros e acertos. O tom natural da vida… “fazendo merda, aduba-se a vida”; dela, a vida, não sou mais, mas no terreno revolto e seco perduro nas minhas lembranças, constantes e desconfortáveis, de vida e morte, da natureza sã que a sandice transformou nas palavras medíocres de uma lembrança amiga “O sentido da vida é nascer, crescer e morrer”.

Sérgio Ventura

Ao meu amor, um período dedicado:

“Não se me esgotam as esperanças de te ter. tenho plena consciência dos meus actos e vale ressaltar que são-no, apenas, reflexo do teu comportamento. Fico muito feliz, e até mesmo supreso, pela tua súbita recuperação e renovação do sentimento de amor, por mim, hoje muito bem visível; gostaria de tê-lo sentido mais quando estavamos juntos. Não quero que faças nada contrário aos teus sentimentos, digo-te de antemão que, mesmo estando longe, continuo pensando muito em ti, e é justamente este desejo maluco que me move, e me alimenta, e me fortalece aqui, neste lado do continente. Fico tentando não perder foco e confesso-te ser até difícil diante de tantas atrações, mas permaneço incólume no sentimento, no coração, no planejamento de nossas vidas. O tempo, caótico em si, já explorado em outro texto, “é algo mágico, nos mostra o melhor de nós mesmos e nos permite transitar pelas melhores estações da vida. Raros momentos, os bons de verdade (…), ao lado da pessoa amada.” Assim é o nosso tempo, deu-nos muito de nós mesmos, explorou-nos as virtudes e os vícios do amor e recusa-se agora a perder o muito e o pouco que foi construído. Disse-me o coração, numa época passada, “Quero que o futuro seja o presente continuado. Para que esperar pelo que se apresenta pronto? Meu presente serias, de todas as manhãs, caso me ousasse o presente ter-te aos meus braços…” Mal sabia eu do que estava falando… mas “o destino tem dessas coisas”!... Por tudo o que ganhei, nada perdi. Do amor… tudo ou nada; tu, no meu coração! Te amo!!!”

Sérgio Ventura

1 de mar. de 2010

Inocentes Pecados

Composição: Marcello Dornelles / Lucas Serafim

O velho blues torna a alma cedente
Do céu vem a luz da lua crescente
O brilho reluz os cabelos cacheados
Sua alma seduz com inocentes pecados

Sua voz ao falar é algo intocável
O seu andar tão belo e admirável
A meiga menina com sua voz tão doce
Beijos não destina a quem quer que fosse

Talvez nem a bossa nova de Tom
Esqueça essa moça e o que traz de bom

O velho blues torna a alma cedente
Do céu vem a luz da lua crescente
O brilho reluz os cabelos cacheados
Sua alma seduz com inocentes pecados

Na estrofe não coube a sua poesia
Só mesmo Vinícius soube o que dizia
Seus lábios trazem um mel tão sagrado
Que os sábios disseram ser demasiado

O Negócio É Amar

Compositor(es): Dolores Duran/carlos Lyra

Tem gente que ama que vive brigando
E depois que briga acaba voltando
Tem gente que canta porque está amando
Quem não tem amor leva a vida esperando

Uns amam pra frente e nunca se esquecem
Mas são tão pouquinhos que nem aparecem
Tem uns que são fracos, que dão pra beber
Outros fazem samba e adoram sofrer

Tem apaixonado que faz serenata
Tem amor de raça e amor vira-lata
Amor com champanhe, amor com cachaça
Amor nos iates, nos bancos de praça

Tem homem que briga pela bem amada
Tem mulher maluca que atura porrada
Tem quem ama tanto que até enlouquece
Tem quem dê a vida por quem não merece

Amores à vista, amores à prazo
Amor ciumento que só cria caso
Tem gente que jura que não volta mais,
Mas jura sabendo que não é capaz

Tem gente que escreve até poesia
E rima saudade com hipocrisia
Tem assunto à beça pra gente falar
Mas não interessa, o negócio é amar

Mudanças!

Se existe a percepção de que algo está errado significa que já estás no caminho esperado: o da mudança. Existe o paradigma do antes e do depois. Quando te olhas no espelho, é certo que verificas um novo começo, uma diferença, a princípio conturbadora, diferente, estranha, mas não te assustes, por que mudar vai exigir que negues uma parte de ti, não mais usável, portanto descartável. Se renove sempre que puderes, sempre que for necessário. Até os astros evoluem.

O ciume!

Se eu tenho medo de te perder, significa que já estou te perdendo, pois a minha insegurança reflete o que você demonstra. Hoje você entrou no MSN e não falou comigo, ficou offline, talvez não quisesse que eu te visse, talvez não quisesse falar comigo. Se você evita falar comigo, seu melhor amigo – suas palavras –, significa que algo não esta indo bem. Estou com ciúmes, pois monitorei o seu Orkut, pra saber que mensagens você receberia ou quem você adicionaria. Notei que estavas online sempre, notei que adicionaste duas pessoas, notei que estás procurando novas fontes de renovação. O seu espaço está se abrindo e estão surgindo novas amizades. Não sei se a minha curiosidade está ligada ao ciúme ou apenas à minha certeza sobre os seus passos. Como tenho dito, as mulheres são muito previsíveis em tudo o que fazem ou dizem. Por isso mesmo estou me desfazendo das minhas emoções. São muito valiosas para serem desperdiçadas com frivolidades.

Espelho meu!

Tem um quê de mentira. Toda vez que a ouço, tento interceptar algo que me faça odiá-la, desmerecê-la. Sei que o motivo de tanta afeição diminui meu julgamento. Deixo-me iludir para passar os dias, mais feliz. Sorvo, na emoção dos sentidos, da paixão, do medo, um comportamento conformado. Insincero, confirmo, mas dia após dia, desgastado pelo sumiço da paixão, doce paixão de outrora que hoje aparece como uma estrela em estágio final, permito-me merecer o melhor que possa existir e assim continuar a desfrutar dos vícios e da beleza da paixão. Recordando e recuperando, a espanto de meu ego, a imagem no espelho, refletindo-me com sinuosidade o espectro, hoje tão dessemelhante. Quase não distingo se é a mesma imagem a quem jurei eterno amor. Se fosse verdade estaria selada em meu sonho por que a realidade me jura de pés juntos: aquela imagem é o meu futuro.

23 de fev. de 2010

Qual a melhor forma de driblar a vida quando se mostra cruel?

Desembarquei. Estava meio confuso, pois havia oito anos que não pisava nesta terra. Minha terra, amada pátria. Já no aeroporto o ambiente tinha outra tonalidade, como num filme antigo, talvez dos anos oitenta, a cor, o design, até mesmo as pessoas, era tudo diferente. As vezes o diferente pode ser assustador. Mas não me deixei intimidar. Tinha a oportunidade de reconhecer na terra os meus traços, rever ruas por onde havia andado e, acima de tudo, rever minha família. Avistei meu primo que me prometera buscar e acompanhar-me à casa. Estava muito diferente, juro que não o reconheceria se não trouxesse a placa indicativa com meu nome. Mesmo ele não me reconheceria. Ambos havíamos mudado. Culpa do tempo que não para. Não trazia muita bagagem, apenas uma mochila com um notebook e alguns documentos importantes, entre eles meu diploma e uma pequena mala com quatro jeans, meia dúzia de blusas e algumas roupas interiores. Não pretendia ficar muito tempo. À caminho de casa, vendo aquela paisagem pouco alterada com passar do tempo, o que contradizia todas as notícias que lera sobre a reconstrução do país, eu e meu primo conversamos sobre as diferenças entre as coisas do Rio de Janeiro e Luanda, minha cidade natal. Eram tantas as diferenças que chegamos a casa antes da metade do diálogo, o que fez com que continuássemos em outra ocasião. Entrando, já encostada à porta e, dentro minha mãe esperando ansiosíssima. Foram pulos de alegria, choros de felicidade, o melhor momento que tanto esperei. Minha mãe não parava de me abraçar, de me beijar, de pedir graças a Deus, por ter trazido o seu caçula e agora “ultigénito”, às suas mãos, são e salvo. Fiquei muito emocionado com toda a situação, minha mãe e outros membros da família tão importantes também.

Amizades Paralelas

O tempo é algo mágico, nos mostra o melhor de nós mesmos e nos permite transitar pelas melhores estações da vida. Raros momentos, os bons de verdade que reconhecemos os melhores, ao lado da pessoa amada. Queria reconhecer na sua natureza o meu ambiente natural. Mas meu mapa se perdeu e, com ele, destruiu minhas esperanças!

23 de jan. de 2010

Saudades

yin-yang-byjimthompsonSinto falta... Sinto falta do teu corpo moreno, do seu jeito simpático, de suas manias, do seu olhar brilhante, seu sorriso perfeito, seu cabelo molhado após sair do banho. Sinto falta de sua sabedoria, o motivo real porque me apaixonei, o motivo real de ser quem sou hoje. Sinto falta de suas canções MPB, do seu jeito de me compreender, do teu jeito de me envolver. Sinto falta de quando todos os meus  “nãos” significavam sim, de nossos domingos de filmes alugados, de nossas noites no shopping e nossas idas à lapa. Sinto falta de nossos passeios românticos. Sinto falta de quando você suportava o meu mau-humor. Sinto falta de seus carinhos, seus abraços, seus beijos molhados. De você me ajudando a fazer minhas tarefas domésticas, não por que você as fazia, mas por que era minha maior companhia. Sinto falta de seus pequenos ciúmes, mesmo que você não os demonstrasse. Sinto falta do seu jeito de agradar a todos. De nossas conversar construtivas e das não construtivas também. Sinto até falta de algumas discussões, por que no final sempre fazíamos as pazes com muito amor. Sinto falta de quando você me dizia que eu era inteligente – ainda acho que você é a única pessoa a achar isso –. Sinto falta de seus cuidados quando ficava doente. Sinto falta de seus presentes, não necessariamente a falta deles, mas do carinho com que você os dava. Sinto falta do seu jeito único de dançar, – eu sempre gostei –. Sinto falta de quando você reparava em mim, isso era único! Sinto falta do eu te amo, do nosso amor. Sinto falta de você!

2 de jan. de 2010

Parágrafo dedicado à minha Prima Eduarda Ventura, a quem nutro especial afeição.

Faz muito tempo, éramos crianças inocentes e, ainda assim, super apaixonadas pela vida. Já tínhamos o senso da amizade e a cultivávamos muito. Crianças ingênuas e sonhadoras. Passávamos as horas brincando, outras vezes divagando sobre o nosso futuro. Já o conhecíamos de antemão. Sabia eu que em breve nos separaríamos e talvez nunca voltássemos a nos ver. Eras uma criança linda, cinco ou seis anos, foge-me à memória, corpo franzino, raquítico, ainda com aqueles olhos pequenos, eternos e brilhantes, os cachos curtos e castanho-escuros, diferente das outras crianças. Sentíamos muito prazer em tê-la conosco, em nossa humilde casa, um castelo pra ti, dada as dificuldades por que passaras. Foi curta a sua temporada em nosso lar, logo te despedias, com lágrimas nos olhos, de alguém que nunca mais voltarias a ver. Ficamos saudosos, muito, eu e meu irmão, não te lembras, mas ele existiu e fez parte de nossas vidas, pouco para ti, é certo. O destino laçou-nos caminhos diferentes, distantes, opressivos, separando-nos do elo afetivo e familiar. Assim nos deixamos levar pela vida, reservando ao tempo às nossas memórias deixadas ao vento do esquecimento. Mas bons ventos a trouxeram, e como dizem, o que vai, volta, a água evaporada da terra é devolvida em maior proporção pelas chuvas, os ventos correm à galope e não se esquecem de devolver-nos as mais significativas relíquias da vida. A lembrança é uma delas; chegam aos poucos, fragmentadas, e como peças de quebra-cabeças, nos lançamos a montá-las, não sem muito esforço.

O reencontro é algo sonhado e querido. Embora exista uma diferença enorme entre realidade e fantasia, uma e outra acabam se complementando de alguma forma. Nada mais satisfatório em saber que existes e saber que a tua vida não é tão diferente da minha. Muito tempo se passou e fico feliz que depois de breve apresentação nos sintamos alinhados com os mesmos traços afetivos de antigamente. Agora só nos falta aguardar do destino a sentença para os nossos caminhos se cruzarem novamente. O onde e o quando, só o tempo dirá. Nosso tempo é curto, mas nossa memória prevalecerá por muito tempo registrada nos cadernos da vida