2 de jun. de 2010

Trajetória

Trajetória

Maria Rita

Composição: Arlindo Cruz / Serginho Meriti / Franco

Não perca tempo assim contando história
Pra que forçar tanto a memória
Pra dizer
Que a triste hora do fim se faz notória
E continuar a trajetória
É retroceder
Não há no mundo lei que possa condenar
Alguém que a um outro alguém deixou de amar
Eu já me preparei, parei para pensar
E vi que é bem melhor não perguntar
Porque é que tem que ser assim
Ninguém jamais pôde mudar
Recebe menos quem mais tem pra dar
E agora queira dar licença, que eu já vou
Deixa assim, por favor
Não ligue se acaso o meu pranto rolar, tudo bem
Me deseje só felicidade, vamos manter a amizade
Mas não me queira só por pena
Nem me crie mais problemas
Nem perca tempo assim contando história...
(volta ao início)

Insone narrador

Caros amigos, hoje não é o narrador sentimental que vos fala, é apenas a voz da consciência vazia que vara a noite insone tentando perceber algo diferente em tudo o que o rodeia. Pelo que vê, ao seu redor, só escuridão. As luzes estão apagadas e diante dele, a tela do pc com suas letras redigitadas, paulatinamente. Mas no som do “real player”, a música “você é linda”, de caetano Veloso, essa sim, seu aconchego diário, reminiscência viva do passado vívido no peito, na alma. Triste narrador, pensando em suas composições sem nexo, fundamentadas na vida medíocre que teve, nas poucas experiências e na velhice precoce em que se meteu. Em sua alma revolta-se em turbulentos pesadelos a pergunta exotérica: o sentido que tem para si a vida, a pergunta principal que mereceria profunda pesquisa, hábito cotidiano dele, mas fracassada pela falta de tempo. - O tempo narrado é o tempo perdido –, conlui. Nada do que se escreve dará melhor sentido à vida do narrador, pois nada do que se escreve é real. O producto final aparecerá mil vezes alterado pela perspicácia daquele que escreve intencionalmente maqueando suas emoções e as fingindo verdadeiras nas letras que se consagram lidas e realizadas. Dá-se em seu pensamento justamente essa idéia de que a vida é uma farsa constante. Tenta-se fazer dela um quadro perfeito, um teatro, um filme, tenta-se planejá-la ao modo do arquiteto, contudo acontece do traço do pintor falhar e termos uma obra prima como a Monalisa ou mesmo o projecto do bom arquiteto da torre de Pizza, também falho, mas louvável pela inclinação secular; arte de vida, vida artística. Não há generalizações, mas no narrador consome-se essa idéia de traços tortos que acertam o caminho destinado. A vida tem pernas próprias, levam-no a cada zona e não pedem permissão para o encantar ou desencantar. Os caminhos cruzados, os acertados e os errados, são-no ao todo responsabilidade das pernas tortas da vida. Não o queira advinhar; apenas truques e enganos querer o controle da vida. Pois! mal fadado exála-se na fumaça do “Hollyhood’s cigarettes”, tentando sistematizar um exemplo de vida que mereça reconhecimento, mas a fumaça entranhando em seu organismo disfarça-se de bom convidado para fazer seu estrago; só quem não percebe é o narrador, demais concentrado nas suas idealizações.

Sérgio Ventura