7 de dez. de 2011

O amor e os sentidos.

Eu te amo.

Eu amo como ama o amor, sem delicadezas nem insultos; simplesmente suave, respeitoso, conciso.

Não há fórmulas mágicas. O que o sentido pede, o corpo obedece. Se me beliscam, sinto; e sinto dor. Se te encostas em mim, sinto; e sinto prazer. Mesmo quando penso em ti, os meus neurónios repassam as mesmas informações aos meus sentidos, e assim sinto, e sinto o prazer de pensar em ti.

Sou amante dos meus sentidos, e eles ou me amam ou me odeiam. Não sinto beliscadas contigo, e ainda que as sentisse, seriam como cócegas que me causariam arrepios e sorrisos e gargalhadas de prazer.

Amo tudo o que me ativa funções sensório-motoras positivas: um sorriso ou um beijo; um sussurro ou um grito; um toque macio ou um forte arranhão; um beijo molhado curto, seco longo ou linguoprofundo, não importa. Vindo de ti, é sensação, é prazer, é amoroso.

Sou amante dos meus sentidos quando me disponho para ti, pois tudo o que é feito de sensação é prazer, e tu és pura sensação; logo, és puro prazer. O meu prazer, o meu amor.

 

Sérgio Ventura.

Lá e cá.

Já não há poeira nos meus pulmões nem graxa diária nos meus sapatos; não há desinteresse, frustrações nem almas iludidas por um sotaque mal articulado; não há privacidade invadida nem amigos no portão da rua esperando convite para entrar em casa que não me pertence; não há dinheiro sendo jogado na latrina; não há mais refeições mal higienizadas nos restaurantes de merda praticando preços triplicados que nem os melhores restaurantes de primeira classe dos países de primeiro mundo praticam; um banho por dia é passado; energia elétrica uma vez por semana é passado; já não há reclamações diárias. O que há é o conforto. Uma casa própria, limpa, com água e luz acessíveis 24 horas por dia, 364 dias por ano – um dia dispensado ao apagão geral –. Banhos incontáveis por dia, piscina, banheira, chuveiro com água límpida e quente. Os meus sapatos não reclamam mais a graxa de petróleo todos os dias, – e duvido que algum dia reclamem aqui –, as roupas têm um cheiro diferente – deve ser da água, outra vez –; os meus amigos entram e saem, esperneiam, deitam-se, dormem, bagunçam a casa toda, bebem, embriagam-se, comem, esparramam-se pelo chão, sofá, cama, fazem barulho, divertem-se entre gritos e sorrisos, gargalhadas e suspiros, e quando vão embora, eu sinto saudades, e desejo que eles voltem o quanto antes para fazer a mesma coisa. Têm toda a liberdade que não pude ter onde me hospedava. As refeições são uma maravilha, – até as mais simples –, têm um sabor inquestionável, inegável, imprescindível ao palato. O coração não se sente mais só; as alegrias são constantes, as ideias são diferentes, os desafios são outros, compatíveis com a minha força e com a minha segurança. Lá onde me dispus por muito tempo, os dias não passavam sem que eu me sentisse infeliz; aqui onde estou, não há dia que passe em que a felicidade não reine na sua constância na minha consciência.

 

Sérgio Ventura.