9 de mai. de 2013

O calote da revisão

Revisar um texto exige muita atenção, despende tempo e dinheiro e, por isso, precisa ser bem remunerado. Uma revisão, por exemplo, de dez páginas pode consumir até 48 horas de um revisor. É o tipo de trabalho que exige boa atenção. As releituras, as descobertas da intenção do autor, a reescrita não se fazem rapidamente.

Nem todo texto que o revisor recebe é fácil de trabalhar. Alguns dão nó até nos mais experientes. Por exemplo, o doutor Fulano desistiu de revisar o texto x porque a semântica do autor era incompatível com a do leitor. Ele tentou reconstruir o sentido, mas foi em vão. Então sobrou para o colega, que já estava atarefado. O prazo era curto e o texto precisava estar pronto.

Em 16 horas, distribuídas em dois dias, o colega conseguiu normalizar o sentido. Que viagem!O texto passou pelas leituras críticas do doutor Fulano e do editor, que aprovou o resultado. Após isso, o texto final foi enviado ao autor. No e-mail, pediu-se ao autor o feedback da revisão que, sendo positiva, implicaria a cobrança da mesma.

O autor demorou sete dias para retornar a mensagem e disse: “estou lendo ainda”. Que viagem!

Quatro dias depois, indagou-se ao autor sobre o parecer do serviço. Afinal, o Revisor precisava confirmar se o trabalho correspondera às expectativas do cliente, haja vista ser uma área em que qualidade é diferencial.

Mais dois dias se passaram, e o autor retornou o e-mail dizendo que ainda estava lendo. Cacete!

O Revisor começou a desconfiar. Mandara o trabalho em pdf e se esquecera de bloquear o arquivo para cópia e impressão. Resultado: tomou calote. Desperdiçou horas com o cliente errado. Ele nem ficou chateado. Sabe que em todo o processo de revisão sempre se aprende algo. E para ele todo aprendizado é uma conquista que gera capital monetário. Deixou para lá. Restava-lhe somente uma pequena dúvida. Teria o autor gostado do seu trabalho?

Sérgio Ventura.

7 de fev. de 2013

Frases aleatórias

Sendo vento, passamos rápido. Sendo mineral, nos tornamos rocha. Sejamos um e outro. Aquele lapidando, esse lapidado.

 

Sérgio Ventura

24 de jan. de 2013

carnaval chegando


O carnaval está chegando, e como em todos os anos, é hora de inverter os valores. Deixar as frustrações do dia a dia na gaveta, as seriedades no ralo e as hierarquias no esgoto. Nesse carnaval só vale mesmo a euforia, a descontração e a igualdade. É o povo que estará na avenida, não o patrão ou a patroa, o pai ou a mãe, que controlam o como deve ser feito.

 As roupas passadas ficarão no guarda-roupas, e na rua vingará mesmo só o amassado, o rasgado, o sujo, o velho. As máscaras ficarão em casa também, e só sairão as fantasias, de todos os tipos: homens e mulheres; jovens e adultos e crianças; pretos e brancos e castanhos e vermelhos e amarelos e verdes; machos e machas e mistos ou andros e ginos e andróginos, cada qual degustando a alegria no contato com o outro.

A companhia para o ritmo das festas será Baco, encantado deus que se esconde nas brands skol, skin, antártica, brahma, mas também na devassa, heineken, stella artois entre outras antropomorfizadas em mulher, líquido vertiginoso. É beber, cair e levantar; como quem diz man dá a primeira, a segunda, a terceira, sem parar e sem hora pra acabar.

Esse é o carnaval que se confunde com festa da carne, não importa se filé ou acém. É carnaval chegando com samba na ponta do pé, com marchinhas do veado e do viagra, do careca e do cabeludo, do trabalhador vagabundo e do malandro trabalhador; mas não esqueçamos também do na boquinha da garrafa, que sempre tem, e já faz parte do samba do carnaval.

Olha o grito, “está chegando o carnaval aí minha gente”, é o grito do se apressa aí, porque está chegando o descompromisso social com as ruas, lugar de todos e de ninguém, que não é nossa casa, mas sim lugar do vale tudo, onde começamos por beber todas para perder o controle e a noção da realidade que tanto nos mata, para depois quebrarmos tudo, picharmos tudo, pinicarmos em todos os cantos, só de leve; e de pesado, começamos a dirigir embriagados,  a bater, a atropelar, a matar; a também falar merda,  - que lugar de cordialidade não é no carnaval, não é? -, e a dar porrada; começamos a trair, a mostrar o p*#, a dar o c* e a b*@$%# sem proteção; e como no carnaval todos são igualmente ricos, passamos a torrar as onças e as tartarugas e a esquecer o mamãe eu quero mamar.

Vamos, vamos! Vamos fazer desse carnaval a maior lambança, que só assim nos definimos brasileiros, certo! em meio a desordem, em meio à sujeira. Vamos fazer todas as merdas que só são possíveis no carnaval, porque não é sacanagem, não, o carnaval para ser divertido não pode ser moderado, ele não pode ser planejado, organizado, executado e avaliado sem cruzar as linhas do absurdo, não é mesmo?



Sérgio Ventura.