14 de fev. de 2011

Do que você tem medo? Por quais tipos de medo somos afligidos?

 

medoTodos, na vida, temos medo de algo ou alguém. Na infância, do bicho papão, do homem do saco e/ou do lixeiro, e por aí vai… São os medos que os pais criam para nos forçar a fazer as coisas que eles querem. Depois da infância, passamos a ter medo de não sermos escolhidos para jogar naquele time de futebol, basquete, dança, etc. Temos medo de sermos o último a beijar dentre a “galera”, e, também, do valetão da escola ou da rua, entre outros tantos. Pois bem! Quando chegamos à adolescência, o que deveria ser o fim dos medos, só se prolonga, e, continua, entrentanto, a saga dos medos: não tirar boas notas na escola, na faculdade, não saber conquistar aquele gato(a) especial; meninas que querem transar, mas evitam, com receio de engravidar, os meninos amedrontados em não se sairem bem na primeira vez… e lá se vão seguindo os medos! Então, finalmente, quando chegamos à fase adulta, e quando não deveriámos temer mais nada, outros piores medos surgem: não conseguir uma boa profissão, não ter um ótimo emprego, ou perder o emprego medíocre que já temos, - digam-me quando termina isso -, ah! E ainda tem, para as mulheres, o medo de ficarem “encalhadas”, de não terem filhos e formarem uma família. Tendo em vista que a sociedade obriga-nos a ter essas coisas, e se, por algum infortúnio, causa natural ou sina familiar, não a temos, todos começam a olhar-nos com certo estranhamento, como, por exemplo, hoje, dia em que, deveras, fiquei “superhipermega” constrangida quando fazia as minhas aulas de moto e fui descoberta. Ouvi algo que me desconsertou bastante: um certo instrutor dizer: "nossa!!! com essa idade!? sem filhos, sem marido? E “blablabla...”. "Fiquei com medo… aterrorizada! E tive certeza que o medo faz parte da nossa vida inteira... mas fiquei me perguntando: “por que tenho que ser igual aos outros? Por MEDO?!!!

Sueli Gomes

3 de fev. de 2011

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa.

Migalhas!

drogaOntem estivemos bem. Ambos com um olhar lascivo, começamos a degustar o fruto proibido. Delícia de maçã...! ou será pêra!? Não importa! O proibido é sempre mais tentador. Mais gostoso. – pelo menos dizem-no os transgressores – . Havia muita malícia nos nossos actos e toda vez que nos encontravamos, o prazer domináva-nos a mente e o corpo. E como não seguissem separadas, a mente tornou-se refém do prazer corporal. Naqueles momentos, estavam instituídos os mais atrevidos perigos. Mandavam-me os sentidos como mandam os generais a tê-la por todo e qualquer momento: por mais que eu quisesse renegá-los, minha função era cumpri-los. E quando não, levavam-me à febre a ausência do seu cheiro, o brilho dos seus olhos, os seus cabelos ora curtos ora longos; a maciez da sua pele; a suavidade invasiva da sua voz... Fazia-me mal, ela, tornada a droga da minha mente. Assim desgostoso, ficava eu a espera daquele pedaço de matéria a quem Deus permitiu luz, como quem espera impaciente pela grama de “crack”, morfina, “coca”; não importasse qual alucinógeno, desde que me permitisse o prazer dos Prazeres em tê-la correndo em meu fervoroso sangue. Ela era, por todas as palavras, irresistível. Uma droga assim, raro o homem a abrir mão! Eu não desistia nunca de usufrui-la para os propósitos do meu eu. Ontem, não foi ontem nem antes-de-ontem; ontem, foram os dias, os meses, e o ano que se fecha, em que estivemos juntos, juntinhos. Uma droga que seus efeitos superam sempre os limitados sentidos da palavra... indescritível! Por muito tempo, foram-se-me culminando os efeitos da sua presença, as bonanças da paixão, que, em descuidado, dir-me-ia adoentado, mas não. Estava curado por ela, essa droga, tão delicioso remédio, – Sim! Remédio porque fazia-me bem –, que por aquele tempo a ela limitei-me pelo período que dura até hoje. E, por todo meu desejo, digo-lhe: “não há sobras que se desprezem quando está em jogo o poder da paixão, minha especiária rara, prazer dos prazeres, ontem e hoje”!

Sérgio Ventura.

29 de jan. de 2011

“Bullshits”

imageEstou despedaçado. Não tenho mais saco para aturar qualquer pessoa. Dos meus amigos só ouço “conversa pra boi durmir”; das minhas amigas, só vejo compulsão sexual; dos mais velhos, as mesmas reclamações sobre experiências enterradas no passado. Os convites que me são feitos para baladas, noitadas, casamentos, e o “caralho a quatro” não são mais aceites. Tudo tornou-se “bullshit”. Não consigo mais enxergar o valor real do presente. Dia após dia, aguento como posso às humilhações da vida, como ficar na merda de um país detestável por compaixão à família e destruir todo um planejamento fiável de vida no terreno a que me acostumei: Brasil. Nos últimos meses, tenho acordado e desejado não acordar. Sinto sempre o peso de estar com os olhos abertos e não ver nada. São todos os dias iguais: o céu cinza e o dia sufocante. Não há nada que saiba a doce mel ou a morango. Embora me sinta aflito, ocorre-me sempre a idéia fugaz de que o próximo dia será diferente. Eis o pretexto para me levantar religioso e vespertinamente todos os dias. Penso numa primeira frase: “nem todos os dias são santos”, e me pergunto: “qual dia o será?” E, depois, numa segunda frase: “nem todo dia é como hoje, por isso, faça tudo o que quiser fazer”, e, outra vez, me pergunto: “o que fazer?” Ou seja, acordo para olhar o vazio porque sou cego, e não faço nada porque tudo o que se me apresenta é vácuo. Vida boa essa, não?!!!

21 de jan. de 2011

Coração em desalinho.


Estou na varanda de casa, primeiro andar; não há vislumbre, apenas uma singular distração à rua que se me apresenta vaga. Transeuntes, meros rostos desconhecidos, iguais à muitos pelo mundo afora. Há imensidão de detalhes, sinais ao longo que não consigo traduzir. Esforço-me em compreender o que está disposto: árvores compridas e secas, típicas do clima africano; carros, uns passando às pressas, outros estacionados à beira da estrada. É uma rua comum, típica de uma cidade pobre: suja em todos os aspectos, poerenta até mesmo no vigésimo andar dos prédio ao redor, quiilogramas incontáveis de lixo, acervo exagerado e armazém para os roedores. – Quantos roedores! –. Os prédios. Esses, à hora dos meus olhos, tardio se fecham às luzes e sincronizam sua graça com o céu noturno de estrelas reluzentes e uma lua cheia. Os prédios têm as luzes apagadas, com exceção à três janelas acesas. Parecem refletir, em associação à minha busca por significados, dentro do meu campo associativo, o estado de minh'alma. A alma em desalinho imersa na escuridão. Eu, sentado, não percebo ainda o significado da minha vida. Não sei exato o motivo de estar aqui, agora, sentado e escrevendo. Parece um desastre não saber que passo dar e deixar que cada palavra alinhada à outra crie o caminho para um significado qualquer que eu possa usar em detrimento de minha própria busca. As músicas que ouço nesse momento trazem ao meu ouvido a doçura de uma poesia. Consigo refletir e extrair a destreza do compositor e o árduo trabalho empregado para realizar o prazer de tocar aos meus ouvidos as mais belas melodias. As lágrimas caem-me pelo rosto e nada explica o vazio sentimento que me consome. Quero sair, gritar; mas... estou preso. É um labirinto a minha consciência. Ainda estou errando nos caminhos. Quero desistir. Parar de andar, e deixar que a saída me encontre. Posso comparar esse momento a dois ímãs com a mesma polaridade. Ambos se repulsam. Assim como a minha infelicidade em busca do seu contrário. Chocam-se uma e outra. Eu cá com a infelicidade. E lá fora, a feliz idade.

        Sérgio Ventura.