Há
um velho ditado de que o modelo de mercado competitivo busca "criar os
melhores produtos pelo menor preço possível". Essa afirmação é
essencialmente o conceito de incentivo que justifica a concorrência mercantil com
base na suposição de que o resultado é a produção de bens de melhor qualidade. Se
eu fosse construir uma mesa, obviamente a produziria com os melhores e mais
duráveis materiais existentes, correto? Visando que ela dure o máximo possível.
Por que eu faria algo ruim sabendo que teria de refazê-la eventualmente, gastando
mais materiais e energia? Bem, por mais racional que isso possa parecer, no
caso do mercado, isso não é apenas claramente irracional como não chega a ser
uma opção. É tecnicamente impossível produzir algo da melhor maneira possível, se
uma empresa pretende ser competitiva e manter seus produtos acessíveis ao
consumidor. Literalmente, tudo o que é criado e posto à venda na economia
global é inferior logo no momento em que é produzido, pois é matematicamente
impossível fazer produtos os mais cientificamente avançados, eficientes e
sustentáveis possíveis. Isso ocorre, pois o sistema de mercado exige esta
"eficiência de custos" ou porque é preciso reduzir os gastos em cada
etapa da produção. Do custo da mão da obra ao custo dos materiais, da embalagem
etc. Essa estratégia competitiva serve para assegurar que o público compre os
seus produtos e não os do concorrente que está fazendo a mesmíssima coisa para
deixar seus produtos competitivos e acessíveis. Esta consequência
invariavelmente esbanjadora do sistema poderia ser denominada "obsolescência intrínseca". No entanto, essa
é apenas uma parte do problema. Um princípio fundamental que rege a economia de
mercado e que você não encontrará em nenhum manual é o seguinte: "nada produzido pode ter uma vida útil maior que o
necessário para manter o consumo cíclico". Em outras palavras, é
fundamental que as coisas quebrem, falhem e deteriorem-se dentro de dado tempo.
Isso se chama "obsolescência programada". A
obsolescência programada é a espinha dorsal da estratégia de mercado de todos
os fabricantes. Muito poucos, claro, admitem essa estratégia abertamente. O que
fazem é mascarar o problema no fenômeno da obsolescência intrínseca, muitas
vezes ignorando, ou até mesmo suprimindo, novos adventos tecnológicos que
poderiam criar um produto mais sustentável e durável. Não bastasse o
desperdício que é o sistema inerentemente não permitir a produção dos bens mais
duráveis e eficientes, a obsolescência programada intencionalmente entende que
quanto mais tempo um produto funcionar, pior será para a manutenção do consumo
cíclico e, portanto, para o sistema de mercado. Em outras palavras, a
sustentabilidade do produto é, na verdade, contrária ao crescimento econômico e
por isso há um incentivo direto e reforçado para garantir que a durabilidade de
qualquer produto seja curta. Na realidade, o sistema não pode funcionar de
outra maneira. Um olhar para o mar de aterros ao redor do mundo mostra a
realidade da obsolescência. Existem agora bilhões de celulares de baixo custo, computadores
e outras tecnologias, contendo materiais preciosos e difíceis de minerar como
ouro, coltan e cobre, apodrecendo em
enormes pilhas devido ao simples mau funcionamento ou obsolescência de pequenas
partes que, em uma sociedade preservadora, poderiam ser consertados ou
atualizados, estendendo a vida útil do produto. Infelizmente, por mais
eficiente que isso pareça no mundo real, por vivermos num planeta finito de
recursos finitos, é claramente ineficaz para o mercado. Para por numa frase: "eficiência,
sustentabilidade e preservação são os inimigos de nosso sistema
econômico".