A partir da criação de um grupo homogêneo em que se definem povo e cultura, suas leis e bases fortalecidas pela comunhão de uma mesma consciência, há por período longo, uma estabilidade social. A sociedade e seu contrato social vivem num regime chamado de síntese. Não há conflitos; apenas harmonia. Mas a tendência humana é o dinamismo, a evolução; nada se conserva em seu ambiente, não por muito tempo. O ser humano cansa-se; reavalia seus princípios com a finalidade de melhorá-los; nada que se lhe apresenta é definitivo; é inconformado. Imagine uma comunidade formada por pouco mais de cem homens. Esse grupo precisa viver em harmonia, e para isso institui regras de conduta que correspondam a necessidade da vida grupal; O tempo passa, o grupo muda com novas gerações, mas as regras permanecem. O único ponto solto serão as regras. Elas se conservam com a história e a tradição do grupo. Mas o tempo continua passando e afastando as primeiras gerações que criaram o grupo das novas gerações e, com essa separação, acontece algo previsível: a história e a tradição passam a tornar-se obsoletas; a história começa a deturpar-se e a apagar-se para as novas gerações tornando fracas as influências primitivas do grupo. Nesse momento, o contrato social, as leis e bases desse grupo começam a ser contestadas, reavaliadas, mudadas. Passamos para um novo nível: a reconstrução ideológica do grupo.
Não é fácil derrubar os valores entranhados no grupo; o sentimento de confronto e o desejo de mudança serão sentidos, a princípio, por poucos dos participantes desse grupo. Haverá uma insatisfação e inconformismo quanto aos preceitos que regem as suas vidas e, desse modo, tudo se tornará estranho para a nova geração social. Nascerá a intolerância, a discórdia, a desordem, o caos. Uma parte do grupo precisará mudar porque não se adequará mais a sua sociedade. Haverá a separação. A separação do primeiro grupo não será fácil; costuma estar associada a muita batalha, porque nenhuma sociedade quer ver-se dividida; mas logo acontece: ter-se-á dois grupos, um oposto ao outro, defendendo ideais contrários; esse é o ponto chave da evolução de uma sociedade e seus valores. A divisão do grupo que formava uma sociedade uniforme abala toda a sua estrutura, pois ter-se-ia uma mesma sociedade formada por dois grupos com ideias opostas. Não ter-se-á uma cultura, uma identidade, uma lei; mas duas. Nascerá da unidade a multiplicidade e, consequentemente, a liberdade de escolha dos componentes da sociedade entre uma tradicional ou uma nova realidade ideológica.
Uma sociedade formada com ideais opostos não conseguirá viver em harmonia. Haverá muita tentativa de uniformizar e equilibrar a situação, mas essa resposta só virá depois de muitos confrontos e depois que o tempo trabalhar nas mentes dos indivíduos a conciliação das ideias positivas e aproveitáveis do grupo tradicional com as ideias positivas e aproveitáveis do grupo novo. Juntando-se o útil ao agradável, a mesclagem dos valores culturais dos dois grupos dará origem a um novo grupo, mais pacífico e com fácil tendência a assimilar os valores culturais dos dois primeiros grupos. O tempo e a distancia entre os costumes de gerações traduz essa tendência. Ainda que se tenha uma sociedade formada por três grupos e seus costumes, voltará pelo tempo determinado a reinar a harmonia disfarçada pela aceitação e homogeneização dessas culturas. Mas o processo de evolução continua; onde termina uma cultura, outra começa; e vive-se de novo e de novo o mesmo ciclo.